Agência Brasil
Os estudantes e professores também exigem que o governo faca cumprir a lei que proíbe as universidades (mesmo as privadas) de lucrarem com a educação. Mas, segundo o economista Marcel Claude, os empresários encontraram formas de burlar a lei. "O dono de uma universidade muitas vezes é o dono de uma fundação e de imóveis. Com o dinheiro que recebe dos estudantes, aluga um prédio de sua própria companhia e contrata serviços e estudos de suas outras empresas e fundações", disse Claude, em entrevista à Agencia Brasil. "No papel, a universidade não tem qualquer lucro. Mas o empresário simplesmente passou o dinheiro de uma conta para outra", completou.
No ensino médio, a situação é outra. Existem escolas privadas e escolas publicas gratuitas, mas elas são financiadas pelos municípios e não pelo governo federal.
Mas existem também escolas "mistas", colégios privados, que cobram mensalidades menores que os totalmente privados, mas recebem subsídios do Estado. Os estudantes e professores dizem que, como o modelo chileno diminuiu de forma significativa o papel do Estado, o governo não tem órgãos para fiscalizar se o dinheiro que entregam às escolas privadas mistas está sendo bem investido. Por isso, querem acabar com este modelo.
O governo tentou colocar um fim às mobilizações estudantis oferecendo um número maior de bolsas e créditos mais baratos. No sábado passado (3) o Presidente Pinera cedeu a uma das reivindicações e recebeu os estudantes e professores no Palácio La Moneda, sede do governo. Dois dias depois, o ministro da Educação fez uma proposta de negociação: criar três grupos de trabalho para negociar todos os temas. O prazo para as negociações vai de 12 de setembro até o final do mês.
"O governo disse que temos três meses para negociar, mas na verdade planejou apenas uma reunião por semana. Ou seja, em três reuniões temos que resolver toda a reforma da educação. Não dá para tratar algo tão profundo tão rapidamente", disse o líder estudantil Camilo Ballesteros.
Outra crítica à proposta do governo, foi a forma de negociar: a discussão começaria pelos temas menos complexos (bolsas de estudo e créditos mais baratos) e só no fim tocaria nos temas mais polêmicos, como o fim do lucro na educação. "Não queremos negociar por partes; queremos negociar um todo. E só queremos negociar se o governo der sinais concretos de que está disposto a fazer mudanças", declarou Ballesteros.
Para o presidente do Colégio dos Professores, uma forma de demonstrar vontade política, de negociar e começar pelo principal, é definir logo as questões polêmicas. "Antes de sentarmos com o governo para negociar temos que definir: queremos o fim do lucro na educação; queremos o fim do sistema misto? Uma vez resolvido isso, aí podemos decidir o que fazer", disse Gajardo.
Na próxima quinta-feira (8), as lideranças estudantis se reunirão para definir uma contraproposta ao governo e uma mobilização nacional. Mas os protestos deverão ser tímidos. O Chile vive uma semana de luto, primeiro por causa da queda de um avião, na sexta-feira passada, matando 21 pessoas e, segundo, por causa da morte do ex-chanceler e ex-senador Gabriel Valdés, nesta quarta-feira (7). Ele fez parte da resistência chilena à ditadura de Pinochet. Por causa da morte de Valdés, o presidente Sebastian Piñera decretou dois dias de luto oficial no país.
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