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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Especialistas mostram o peso dos impostos no bolso dos brasileiros

 

Duas famílias, uma do RJ e outra de SP, aceitaram o desafio de guardar notas fiscais, durante um mês, de todos os gastos que fizessem. No final, descobriram quanto gastam por mês em impostos embutidos nos preços.



Nas duas maiores cidades do Brasil, duas famílias aceitaram um desafio: durante um mês, elas teriam que guardar as notas fiscais de todos os gastos que fizessem. A reportagem de Monalisa Perrone e Mônica Sanches mostra qual era o objetivo desse desafio e as descobertas que essas famílias tiveram.
Duas filhas para sustentar e o salário de professora para gastar. Na casa de Carla, no Rio, são três mulheres e suas listas de despesa essenciais.
“Conta de luz, gás, telefone, condomínio, escola”, contou a mãe. “Unha, salão, roupa, maquiagem, sapato”, disse uma das filhas. “Ir para o cinema com os meus amigos, sair para o parque”, contou a outra.
Em São Paulo, Raimunda, Rosildo e as duas filhas vivem com um orçamento de R$ 2,5 mil por mês.
“Sou a que mais gasta da família”, contou uma delas. “Ela é que mais gasta, e eu economizo”, entregou a outra.
Para entender o que acontece exatamente com o dinheiro de Raimunda e Carla, elas vão ter uma ajuda de quem conhece e estuda os impostos de tudo.
“Quando você levanta e acende a luz, já está pagando a tarifa de energia elétrica. Levantou e vai no banheiro, a água você já tem q computar também. Água, sabonete do banho, os produtos que você usa no cabelo, a escova de dente, o creme dental, tudo isso tem imposto”, explicou João Eloi Olenike, do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.
“Carla, todos os meses para manter a sua casa, a sua família, você tem diversos gastos. Você tem ideia do quanto desses gastos servem para pagar impostos?”, perguntou o advogado tributarista Paulo Uebel, do Instituto Millenium.
“Eu acredito que 20%”, respondeu Carla.
O trato é: durante um mês elas têm que pedir nota fiscal de tudo, compras ou gastos com serviços e os comprovantes vão ficar bem guardados: “Vou arrumar uma caixinha de sapato”, disse Raimunda.
Todo dia de compra é igual: no supermercado, Raimunda e Carla olham, gostam e pegam. Sem informação sobre o que está embutido no preço dos produtos.
Nas compras grandes, como a do supermercado, Raimunda já tinha o hábito de pedir a Nota Fiscal Paulista, criada pelo Governo de São Paulo para estimular as pessoas a pedirem nota fiscal. Depois, parte do valor é restituído. Pode ser em dinheiro na conta ou em abatimento de impostos, como o IPVA, por exemplo.
Carla também não teve dificuldade em receber as notinhas no supermercado ou shopping. Mas na lanchonete pertinho de casa foi bem diferente. “Você poderia me dar uma notinha?”. “Não tenho no momento”, respondeu a atendente.
No Rio, como em muitos lugares do Brasil, algumas pessoas não têm o habito de pedir nota fiscal e muitos estabelecimentos não cumprem a lei que determina o fornecimento automático da nota. Além do mais, nem todo mundo conhece as diferenças entre um simples recibo e o comprovante legal.
“Nota fiscal tem a razão social do estabelecimento comercial, o endereço, CNPJ, a inscrição municipal ou estadual, o número da via e também o número de série. Então são documentos completamente diferentes”, orientou Paulo Uebel.
Depois de 30 dias de mudanças de atitude e principalmente de ponto de vista, a família da Dona Raimunda descobriu o verdadeiro peso da carga tributária. Será que é muito para o orçamento de uma família? Tem muito imposto? “Um pouco”, responde Raimunda. “Mais ou menos”, aposta a filha.
Um mês depois, a equipe volta à casa da Carla com o valor total dos impostos que ela pagou neste período. No primeiro encontro, ela tinha a expectativa de que os impostos chegassem a 20% do total das despesas. Ela calculava que esse valor seria de mais ou menos R$ 200.
Os homens que entendem tudo de impostos voltaram às casas de Carla e Raimunda. Em um mês, a família de Raimunda gastou quase R$ 1.000. Seria bem menos não fossem os impostos.
“Se vocês não pagassem esses R$ 301,09 de impostos, vocês gastariam no mês apenas R$ 660,47”, explicou o especialista.
Carla também levou um susto: “Carla, um mês você gastou R$ 1.832,07 E de impostos você pagou R$ 593,74”.
Nas duas casas, o resultado foi o mesmo: um terço dos gastos foi para o pagamento de impostos. Mas nessa conta não entram aquelas notas sem qualquer valor legal.
“Ou seja, foram valores que não serão revertidos para a sociedade porque nem o município, nem o estado, nem o Governo Federal vão receber esse recurso”, destacou Paulo.
“Se nós formos calcular quanto dinheiro o Brasil deixa de arrecadar passa dos bilhões porque realmente é um valor muito expressivo. O brasileiro não tem o hábito de pedir nota isso acaba impactando no recolhimento de impostos”, afirmou o Paulo.
Depois dessa experiência, eles aprenderam a enxergar o que fica escondido. Carla entende que os impostos que paga deveriam garantir boas escolas públicas, por exemplo. Mas, em busca de qualidade, ela achou necessário enfrentar as taxas de matrícula e mensalidades de uma escola particular.
“Eu sou obrigada a pagar para que ela tenha uma escola melhor”, lembrou Carla.
“E sobre essa mensalidade incidem impostos, então as pessoas pagam impostos duas vezes”, ressaltou Paulo.
“Acho que a gente tem que começar a cobrar onde está sendo empregado e aplicado esse dinheiro, já que é retirado da gente. Se tivesse comigo, eu saberia o que fazer, já que não está, eu acho que a gente tem que começar a cobrar onde que está sendo usado e como está sendo usado”, destacou Carla.

fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/06/especialistas-mostram-o-peso-dos-impostos-no-bolso-dos-brasileiros.html

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