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sábado, 24 de setembro de 2011

Menina ressuscitada em hospital reconhece médico que a salvou

 

O que hoje parece uma história de pura ficção poderá ser reconhecida pela ciência como verdade? As EQMs começaram a ser estudadas há 150 anos.

LUÍS FERNANDO SILVA PINTO e JOSÉ RAIMUNDO


O que hoje parece uma história de pura ficção poderá ser reconhecida pela ciência como verdade? Da neurociência à física-quântica, a cada pesquisa os cientistas encontram uma resposta e centenas de novas perguntas. As Experiências de Quase Morte (EQMs), por exemplo, começaram a ser estudadas há 150 anos, mas nunca como nas últimas décadas se investigou tanto, e tão profundamente, o assunto.
Há 28 anos, o médico pediatra Melvin Morse conseguiu salvar a vida de uma menina que quase se afogou. A experiência mudou tudo o que ele aprendeu na escola de medicina sobre o fim da vida.
A criança que se acidentou em uma piscina comunitária ficou 18 minutos sem batimentos cardíacos. Todo o processo de salvamento durou quatro horas. Um mês depois, médico e paciente se reencontraram. Ela imediatamente o reconheceu.
O médico relata: “’Eu não gosto dele’, disse a menina. ‘Ele colocou um tubo no meu nariz! Eu vi o senhor indo até o telefone para chamar alguém e o senhor perguntou: o que eu devo fazer agora? O senhor me colocou em uma grande máquina que parecia um círculo’, em uma clara referência ao tomógrafo - e ela disse também com muita segurança: ‘eu não estava morta, eu estava viva.’"
A partir deste episódio, o médico pesquisou experiências de quase morte ao longo de 15 anos. Aprendeu, por exemplo, que nem todas as pessoas socorridas em uma emergência passam pela mesma experiência.
"As EQMs são relatadas principalmente pelos pacientes que tinham uma chance mínima de sobrevivência, e talvez isso tenha a ver com a possibilidade de uma vida em um nível superior. De qualquer forma, essa consciência fora do corpo físico é um evento totalmente subjetivo, algo que a ciência não pode explicar", diz o Dr. Morse, voltando ao exemplo da menina ressuscitada.
O desenho que ela fez para ilustrar o que aconteceu tem o céu representado por um campo florido, onde alguém que ela imaginou ser Jesus disse a ela para voltar porque sua família precisava de ajuda.
A menina também explicou ao médico que viu a mãe segurando um bebê no colo - era o seu irmãozinho, que foi desenhado com um enorme coração e que depois, coincidência ou não, nasceu com um problema cardíaco congênito.
O que acontece com a mente no estágio da morte? O que é possível estudar sobre isso? O médico intensivista americano Sam Parnia também se especializou em EQMs. Ele trabalha como pesquisador e professor no centro médico Stone Brook, em Nova York.
Usando tecnologia de ponta, os médicos conseguem medir até a oxigenação do cérebro quando ele para de funcionar. Mas é um detalhe de criatividade o que chama a atenção:
"Nós colocamos acima dos leitos da UTI imagens que só podem se identificadas do alto. São objetos que não combinam com esse ambiente. Não botamos um desfibrilador, que seria óbvio aqui, mas algo como a gravura de um cachorro cor de rosa, por exemplo", explica Sam. “Depois, se um paciente acordar contando que saiu do corpo e viu a gravura lá em cima, esse é o tipo de relato que obriga os médicos a no mínimo parar para pensar.”
Este é o objetivo do estudo que ele iniciou e está em andamento em 30 centros de pesquisa, em sete países. O Brasil já participa deste estudo, o mais amplo até agora sobre Experiências de Quase Morte. Os trabalhos se concentram na Zona da Mata Mineira, onde professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) aplicam a pesquisa em pacientes que conseguem vencer a luta contra a morte. A meta é estudar todos os pacientes que passarem pela emergência de cinco hospitais, nos próximos dois anos.
“Se há funcionamento mental na ausência de funcionamento cerebral, então essas teorias que afirmam que o cérebro produz a mente, que a mente ou a consciência é apenas um produto do cérebro, essas teorias não se sustentam", avalia o filósofo Saulo Araújo, da UFJF.
O coordenador da pesquisa sobre EQMs, o cirurgião cardiovascular Leonardo Miana, concordou em montar um exemplo do tipo de gravura que ficará nas bandeijinhas. São imagens que podem ser reconhecidas facilmente por qualquer pessoa, não importando sexo, a idade ou classe social.
"Se um paciente relatar que viu uma, duas ou mais figuras que estão colocadas no teto, isso não é uma produção pré-formada no cérebro dele. são imagens aleatórias, então provavelmente esse paciente terá tido uma experiência fora do corpo”, explica Leonardo.
"Nós vamos tentar investigar se realmente o cérebro não estava funcionando, nós vamos ter dados para investigar se o coração não estava funcionando, e a partir disso identificar se durante esse período que o cérebro não funcionava a pessoa foi capaz de ter percepções verídicas, que a gente pode comprovar que aquilo realmente aconteceu", reforça o professor de Psiquiatria da UFJF, Alexander de Almeida.
Na Santa Casa de Juiz de Fora, os leitos da UTI já estão preparados. Todos os sobreviventes de paradas cardiorrespiratórias serão entrevistados. Os relatos serão avaliados com base nas respostas de um questionário-padrão.
"Não se conhece quase nada sobre a mente, mas também se conhece muito pouco do cérebro. Essa pesquisa, de certa maneira, vai ajudar inclusive a evoluir o conhecimento sobre o próprio cérebro", aponta o fisiologista Carlos Alberto Mourão Jr., da UFJF.
A pesquisa também vai servir para não desperdiçar histórias como a da psiquiatra aposentada Sandra do Nascimento. Diabética, cardíaca e com problemas renais, ela esteve à beira da morte mais de uma vez. Quando teve uma EQM, viu toda a correria dos médicos para salvá-la. Foi o que ela contou para sua cardiologista, insistentemente.
"Via os movimentos, descreveu até a movimentação da enfermagem, a movimentação do próprio Dr. Leonardo e do outro plantonista que estava junto. O que nós achamos interessante é que vários dias depois ela ficou falando, falando, falando, e sempre descrevendo tudo direitinho. Ela reconheceu o Dr. Leonardo sem nunca ter visto ele antes”, destaca a cardiologista Fernanda Lanzoni.
“Três dias depois, eu fui ver como a Sandra estava e ela me reconheceu de pronto. E falou: ‘eu lembro que você inclusive me abriu’”, relata o Dr. Leonardo.
Seis meses depois, a Dra. Sandra esqueceu quase tudo. Permanece apenas a forte presença de uma luz, que dá a ela até hoje uma enorme sensação de paz e bem estar, apesar das limitações do corpo muito doente.
“Essa luz era amarela. Amarelo intenso, muito intenso e luminoso. Ela aproximava e afastava, aproximava e afastava, e na medida em que ela ia e vinha, ela diminuía”, descreve Sandra. “É uma coisa que eu tenho como que inexplicável. Eu atribuo a uma coisa do alto, uma coisa de Deus. Só pode.”

fonte: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2011/09/menina-ressuscitada-em-hospital-reconhece-medico-que-salvou.html

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