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sábado, 24 de setembro de 2011

Diaristas dão exemplo de honestidade e conquistam confiança dos patrões

 

Em 12 anos como diarista, Leda Ferreira Dias criou uma estratégia: limpa vários cômodos ao mesmo tempo.

Ismar Madeira Belo Horizonte


Muita água, sabão e uma boa ducha. Força nos braços e técnica. Em 12 anos como diarista, Leda Ferreira Dias criou uma estratégia: limpa vários cômodos ao mesmo tempo. Lava a louça, mas não termina a limpeza da cozinha. “O tempo que vai secando as vasilhas, eu vou fazendo outra coisa”, explica.
Ela tem que dar conta de uma casa inteira em um único dia. São até oito horas seguidas em cada endereço, em Belo Horizonte. O preço varia de acordo com o serviço e o tamanho do imóvel. Em média, R$ 80. A disputa das clientes é grande. Duas vizinhas até aceitaram dividir o dia, mesmo cada uma pagando a diária cheia, só para não abrir mão do trabalho de Dona Leda.
“Estou dispensando serviço, mas fico bem chateada quando eu tenho que dispensar”, revela.
Dona Leda costuma encontrar as casas na maior tranquilidade. A maioria dos clientes não está enquanto ela trabalha. É que além da faxina bem feita, outra qualidade que vale ouro nos diaristas é a capacidade de conquistar a confiança dos patrões. É o que a pedagoga Maria do Carmo Borel valoriza na hora de contratar alguém para trabalhar na casa dela.
“É muito importante você poder sair e deixar a pessoa na sua casa e falar: ‘quando você terminar, você tranca. O dinheiro está aqui’”, conta Maria do Carmo. “É importante ter iniciativa, saber o que tem para fazer naquele dia. Isso a Leda tem, e me encanta a educação dela comigo e com os meus filhos.”
Qualidades que vêm do berço. Caseira, Dona Leda é muito "família". Os dois filhos – Cássio, de 16 anos, e Carla, de 21 -, a netinha Luna, de 2 anos, e os pais dela estão sempre por perto. E orgulhosos.
“Só de ela sair de manhã e chegar de noite para trabalhar é uma coisa muito importante”, diz o aposentado Celso Ferreira.
“O que a gente pode passar para eles foi isso: ter educação e ser pessoa de confiança”, acrescenta a dona de casa Terezinha da Costa Ferreira.
“É o mínimo que o ser humano tem que ser, ser trabalhador e ser honesto. Para mim não é dizer uma qualidade que eu tenho. É uma obrigação”, finaliza Dona Leda.
Leda nasceu na roça, já trabalhou na lavoura e em lojas no interior como vendedora e até gerente.
Foi para Belo Horizonte como dona de casa, depois de se casar. Mas teve que voltar ao batente quando se separou. Aí só conseguiu trabalho como diarista. Para os filhos? Uma heroína.
“O serviço dela é diferente do das outras pessoas. Ela não só limpa, ela cuida. É muito gratificante ouvir falar da mãe da gente”, elogia a manicure Carla Aparecida Dias.
“Sozinha, conseguir criar dois filhos com esse trabalho é legal para caramba. Sinto orgulho”, diz o estudante Cássio Ferreira Dias, emocionado.
Dona Leda recebe uma pequena pensão para o filho menor de idade, paga pelo ex-marido, que deixou também uma obra começada: a casa que, agora, ela quer terminar.
A obra vai no ritmo das diárias. Quanto mais serviço, mais dinheiro para comprar material e levantar a casa. Dona Leda prefere evitar prestações, por isso só segue para uma nova etapa da construção quando tem dinheiro guardado.
Não quer arriscar sem ter um salário fixo. Mas investe o que consegue economizar. São dois andares. O primeiro para ela. O segundo para a filha.
“Ela me ajuda, sempre vai comigo para fazer faxina. Improvisei um salãozinho ali para ela, para ela também ganhar o dinheirinho dela, ela também ajuda muito”, diz Dona Leda.
Em um cantinho da casa, Carla atende como manicure. Segue os passos da mãe: quando necessário, vai mesmo ajudar nas faxinas. Nas diárias, elas acham que ganham mais do que empregadas com carteira assinada. Mas sabem que sem pagar INSS, não tem aposentadoria e nem benefícios como o auxílio-doença. Dona Leda resolveu começar a contribuir com a previdência. Quando terminar a construção, pretende alugar a casinha onde a família mora hoje, nos fundos do lote. “Pensar no futuro, porque faxina é um serviço bem pesado.”
Preocupada com o futuro, mas vivendo muito o presente. Parte das diárias é sempre separada para viagens em família. “Esses momentos é que eu curto os meus pais. Vale cada minuto do trabalho, com certeza”, garante Dona Leda.
No ano que vem, já está nos planos de Leda: a festa dos 50 anos de casamento dos pais. “O dinheiro da diária vai para fazer a festa da melhor maneira possível.”

fonte: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2011/09/diaristas-dao-exemplo-de-honestidade-e-conquistam-confianca-dos-patroes.html

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