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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Quadrilha negocia dados sigilosos até de mortos para aplicar golpes

 

A quadrilha, mostrada pelo ‘Fantástico’, comprava informações confidenciais de bancos e órgãos públicos para aplicar golpes.



O Fantástico mostrou no último domingo (4) como agia uma quadrilha que comprava informações sigilosas. O Bom Dia Brasil mostra nesta segunda (5) novas vítimas desse grupo e também ouviu outras gravações telefônicas. Elas revelam que a quadrilha também negociava com advogados do Paraná.
O esquema usava o nome de pessoas inocentes. O mais assustador é a facilidade que a quadrilha tinha para conseguir dados pessoais que deveriam ser sigilosos. Essas informações de bancos e órgãos públicos depois eram vendidas.
Dolivaldo Soares Bravo ficou surpreso quando a equipe de reportagem chegou na casa dele, no estado de Goiás. Em nome dele existe uma ação na Justiça que cobra de um banco mais de R$ 10 mil por perdas referentes ao Plano Collor I, de 1990.
“A gente tem uma vida toda trabalhando, construindo com honra o nome da gente, e vê pessoas usando nosso nome e jogando tudo o que a gente construiu durante a vida por água abaixo, destruindo o nome da gente”, lamentou Seu Dolivaldo.
A ação falsa em nome de Seu Dolivaldo foi ajuizada em Lençóis Paulista, cidade do interior de São Paulo que fica a cerca de 600 quilômetros de onde ele mora. “Nunca morei em Lençóis Paulista. Nunca morei lá, nunca estive lá, nem a passeio”, comentou Seu Dolivaldo, que é uma das milhares de vítimas de uma quadrilha que comprava informações bancárias sigilosas e entrava com falsas ações na Justiça.
No domingo (4), o “Fantástico” revelou em detalhes como o grupo agia. Segundo o Ministério Público, o advogado Carlos Alberto Martins, de Lençóis Paulista, é o chefe do esquema. Ele teve a prisão decretada e está foragido. As investigações mostram que, depois de conseguir os extratos bancários dos clientes, advogados que trabalhavam para Carlos Martins montavam falsas ações contra os bancos.
O nome do correntista e o número do CPF informados à Justiça eram verdadeiros. E o endereço? Do outro lado da rua, há os números 254, 264 e 274. Pela sequência, o número 259 teria de ficar bem no terreno onde não tem nada construído. César Mansani é apontado como o fornecedor dos dados sigilosos, que chegavam a ser negociados por até R$ 200 mil.
“A gente tem material de 2002, 2006, ativos e inativos junto, na mesma relação. Deve ter quase um milhão de nomes. Teria que pensar, talvez, em R$ 100 mil, R$ 200 mil”, disse César Mansani a um fornecedor.
Novas gravações obtidas pelo Bom Dia Brasil revelam que a quadrilha de São Paulo também tinha clientes no Paraná.
Homem: ‘Tu’ tem as agências aqui de Curitiba?
César Mansani: Tenho. Tem de Curitiba, tem do Paraná, dos três ali que você pediu.
Em outra gravação, advogados pedem a César Mansani a relação de pessoas que estão com a prestação do carro atrasada.
Advogado: Eu preciso também de outra coisa, velho. Eu preciso de lista de bancos de revisão de financiamento de veículos. Você tem?
César Mansani: É leasing, né?
Advogado: É CDC e leasing. Os dois.
César Mansani: Você precisa ver. Eu posso conseguir pra você.
Segundo a investigação, com esses dados os advogados conseguem entrar em contatos com os clientes para renegociar a dívidas com os bancos. “As instituições responsáveis pelo resguardo das informações sigilosas deveriam zelar com cautela pelo devido arquivamento das informações”, afirma o promotor de Justiça Rafael Abujamra.
O Ministério Público diz ter provas de que o vazamento dos dados bancários partiu de empresas contratadas para arquivar os documentos sigilosos.
“Se ficar comprovado que há empresas que agiram inadequadamente, elas vão ser descredenciadas e vão ser processadas. Se ficar comprovado que houve envolvimento de funcionários, eles vão ser demitidos, punidos e também processados”, garantiu o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal.
O presidente da Febraban tranquiliza os clientes. “Os investimentos para proteger esses dados são elevados. Os dados mais modernos são todos mantidos em bases eletrônicas. Tem sistemas bastante seguros, com índices de 99,99% de segurança”, garante.
A equipe de reportagem foi atrás de César Mansani, que aparece nas gravações telefônicas negociando os bancos de dados. Ele mora na Zona Oeste da capital paulista. Por telefone, o produtor de reportagem do Fantástico simula interesse em abrir um escritório de advocacia e marca uma reunião.
O encontro foi marcado em um shopping da Zona Oeste de São Paulo às 14h30. A equipe de reportagem do “Fantástico” tentou negociar com ele alguns dados sigilosos. A conversa aconteceu na praça de alimentação. Ele disse que consegue os bancos de dados e propõe uma sociedade.
César Mansani: A gente racha. Meu um terço, por exemplo, dos honorários advocatícios. Eu vou ganhar, você vai ganhar. Eu seguro. Banco de dados é normal. Isso daí é para localizar uma pessoa, poupadores. Eu consigo o banco de dados.
Nas interceptações telefônicas, César Mansani negocia também informações da Previdência.
Fornecedor: Até 2008 esse programa do INSS, sabe, César? É assim: tem o número do benefício, nome, telefone, endereço, tudo, CPF da pessoa. Tem tudo ali. Sabe quanto o cara me pagou nesse programa que eu peguei? R$ 100 mil.
Em outra gravação, César Mansani pede a uma pessoa o cadastro de todos os donos de carros do Brasil: “Placa de automóveis e endereço do proprietário. Os dados do proprietário“.
A resposta é que alguém do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) pode conseguir as informações sigilosas.
Homem: Ele vai ver lá, viu? Ele fica em Brasília, entendeu? Lá no Denatran, sabe?
César Mansani: A gente senta e fecha o negócio.
Homem: ‘Tá’ bom. Beleza.
“Por parte do juiz, do Poder Judiciário, é um fato triste constatar que há pessoas que, em tese, inclusive advogados que usam a sua profissão para tentar enganar o Poder Judiciário e tentar enganar juízes para auferirem quantias em dinheiro”, lamentou o juiz de Birigui (SP), Carlos Gustavo se Souza Miranda.
A equipe de reportagem descobriu que até pessoas mortas tiveram seus nomes usados pela quadrilha para tentar receber dinheiro de bancos.
“Custodio Gonçalves é falecido há quase dois anos. Meu pai faleceu em outubro de 2009. Essa procuração está na data de 2010. Meu pai já tinha falecido quando foi feita essa procuração. E falecido não assina”, comenta o filho de Custódio, Tales Gonçalves.
De acordo com o Denatran, os critérios de acesso às bases de dados são revisados periodicamente e só os órgãos públicos têm acesso a informações pessoais. Em nota, o INSS informou que denúncias de fraudes são encaminhadas ao Ministério Público e à Polícia Federal e que o instituto atualiza sistematicamente a segurança para evitar acessos indevidos e vazamentos.
César Mansani e Carlos Martins foram procurados pela equipe de reportagem, mas preferiram não dar entrevista enquanto não tiverem acesso às informações da investigação.

fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/09/quadrilha-negocia-dados-sigilosos-ate-de-mortos-para-aplicar-golpes.html

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