Total de visualizações de página

quinta-feira, 1 de março de 2012

Americano cruza o mundo e leva livros a US$ 1 para crianças no Laos


Sasha Alyson usa até elefante para distribuir livros feitos por sua equipe. 
Série do G1 conta histórias de empreendedores sociais pelo mundo.

Giovana SanchezDo G1, em São Paulo
Sasha Alysson lê livro para criança no Laos (Foto: Divulgação)Sasha Alyson lê livro para criança no Laos
(Foto: Divulgação)
Em uma viagem ao outro lado do mundo, o americano Sasha Alyson reparou em um detalhe que passaria desapercebido à maioria dos turistas convencionais: no Laos, quase não existem livros infantis. Principalmente na língua oficial, o lao. Encantado com o povo e com o lugar, Sasha decidiu voltar ao país – e levou com ele sua experiência na área editorial.
Três anos depois, Sasha montou a Big Brother Mouse, uma editora que publica obras para os pequenos laocianos.
[O G1 publica, nesta quinta e sexta (1º e 2), a série 'Transformadores - pessoas que mudam o mundo', que conta histórias de gente que mudou a própria vida para melhorar a realidade de outras pessoas.Conheça todos os protagonistas da série.]
Hoje, depois de 8 anos, a Big Brother Mouse ('Grande Irmão Rato') tem 170 títulos publicados, ilustrados e distribuídos em escolas, salas de espera de hospitais e 'festas de livros', promovidas pela editora. Os livros chegam até as áreas mais remotas do país, nem que tenham de ser entregues de elefante.
A maioria dos funcionários da Big Brother Mouse é de jovens laocianos, que traduzem, ilustram e até escrevem as obras. Sasha, que se mudou em definitivo para a Ásia, escreveu muitos dos livros e bancou a iniciativa nos primeiros anos. Agora, o projeto é financiado com doações e parcerias. Além de serem vendidos por preços baixos (custam menos de US$ 1), os livros podem ser baixados pela internet.
Conheça Sasha:
Boom Boom, que significa 'livros' na língua lao, foi doada por uma associação de proteção de elefantes e entrega livros em regiões de difícil acesso da província de Sainyabuli  (Foto: Divulgação)Doada por uma entidade de proteção de elefantes, Boom Boom (que significa 'livros' na língua lao)
entrega livros em regiões de difícil acesso da província de Sainyabuli (Foto: Divulgação)
G1 - Quando você teve a ideia de levar livros infantis para o Laos?
Sasha Alyson - 
Eu tive a ideia em maio de 2003, quando visitei o Laos pela primeira vez e não vi nenhum livro na língua lao (eles existiam, mas não eram muitos e a maioria circulava só na capital). Eu não tive a ideia antes de ir, mas naquela época eu tinha acabado de vender um negócio de turismo que tinha e estava livre para me mudar para qualquer lugar que quisesse.
G1 - Como foram os meses entre a decisão de montar a editora e as primeiras publicações?
Sasha - 
Passei 3 anos indo e vindo, baseado na Tailândia, para desenvolver a ideia, decidir se era factível e conhecer pessoas - governantes, professores, jovens etc.
G1 - Quais foram as maiores dificuldades no começo? E agora?
Sasha - 
Uma das maiores dificuldades era que eu estava trabalhando com jovens que nunca tinham lido um bom livro e tentando ajudá-los a escrever um. Nós desenvolvemos várias abordagens, que foram bem sucedidas, como descrevemos no nosso site (em inglês).
No fim das festas de livros, cada criança pode escolher um para si (Foto: Divulgação)No fim das festas de livros, cada criança pode escolher um para si (Foto: Divulgação)
G1 - Os livros são gratuitos?
Sasha - 
Os livros são vendidos a preços muito baixos, tornando possível o financiamento por cada livro. Quando vamos a um vilarejo, damos os livros para a escola de graça. Isso só é possível porque conseguimos financiamento para essas doações.
G1 - Você poderia contar a história do elefante Boom Boom?
Sasha - 
Por favor, observe que só usamos Boom Boom [para entregar os livros] ocasionalmente - e outros elefantes em outras áreas - quando é apropriado para a circunstância. Mas é muito legal para as crianças do vilarejo e uma agradável mudança para nosso staff também.
mapa laos transformadores (Foto: Arte/G1)
G1 - Sua vida mudou um tanto nos últimos anos, certo? Hoje você mora no Laos?
Sasha - 
Minha vida está mais ocupada do que nunca, acho, e muito satisfatória. A maior parte do tempo trabalho em um escritório, ajudando pessoas a aprender habilidades ou fazendo trabalhos diretos. Mas regularmente vou aos povoados onde vejo os livros sendo usados. Vejo tanto crianças como adultos se empolgando com eles. A melhor parte é que, após vários anos, nós estamos apenas começando a ver um hábito de leitura criar raízes.
G1 - E vale a pena?
Sasha - 
Nosso staff acabou de se instalar no distrito de Ngoi, num vilarejo acessível apenas pelo rio, onde montamos uma sala de leitura. Temos um novo livro sobre a Segunda Guerra Mundial, que eles ainda não receberam. Então alguém foi até uma aldeia em uma estrada, onde tinha o livro, e pagou US$ 0,25 para levar emprestado por duas semanas. Fiquei bastante emocionado porque a pessoa teve interesse suficiente para fazer isso. Nossa equipe também viu as crianças que vão aos campos sentarem-se ali enquanto os pais trabalham. Agora, alguns deles têm livros. Ninguém nunca tinha visto isso alguns anos atrás. Então, sim, definitivamente vale a pena.

Conheça uma das histórias mais vendidas da editora Big Brother Mouse:
O gato que meditava
Recontada por Siphone Voutthisakdee
Imagem do livro, em lao (Foto: Divulgação)
"Uma vez, há muito tempo, um gato rasgou a parte inferior de uma cesta. Então ele colocou a cesta em volta do pescoço, e fingiu que estava meditando.

No dia seguinte, alguns ratos passaram por perto. "Tio Gato", perguntou um gato, "por que você não sai e vai buscar algo para comer?" O gato respondeu: "Eu costumava comer ratos, mas isso estava errado. De agora em diante, eu nunca vou comer carne ou peixe novamente. Eu só vou comer legumes, ervas e brotos de bambu. Eu vou seguir as regras do budismo, e fazer coisas boas todos os dias. Ao morrer, eu não vou ter um carma ruim quando renascer, e eu não vou para o inferno."
Quando os ratos ouviram isso, eles acreditaram que o tio gato faria o que havia dito, então concordaram em se revezar cuidando dele. Todos os dias, um rato trazia vegetais, brotos, e grama para ele comer.
Muitos dias se passaram. Mas o tio gato não conseguia comer apenas vegetais, brotos de bambu e grama em vez de carne e peixe. Então, todos os dias quando um novo rato vinha trazer comida e cuidar dele, o tio gato o pegava e comia.
Antes de conversar com o gato e começar a levar-lhe comida, havia muitos ratos. Mas depois de um tempo, os roedores notaram que havia menos deles. Um dia, eles foram para a floresta para encontrar comida e viram que as fezes do gato estavam cheias de pêlo de rato.
Agora, os ratos sabiam que o gato não estava seguindo sua promessa. Ele havia mentido. Depois disso, o gato cavou um buraco e enterrou seus excrementos para escondê-los dos ratos. Mas os ratos cavaram um buraco também, onde podiam viver em segurança, sem medo do gato.
É por isso que gatos e ratos nunca mais foram amigos."

Nenhum comentário:

Postar um comentário