Segredo para vencer preconceitos e ganhar respeito é fazer o que gosta.
Elas lembram que não é preciso deixar vaidade de lado para exercer função.
8 comentários
As mulheres completam 80 anos do direito de votar agora em 2012, mas as conquistas que podem ser comemoradas neste Dia Internacional da Mulher vão muito além. A cada ano, elas se firmam em profissões que antes eram tidas apenas como masculinas e mostram que não é preciso deixar a delicadeza e a vaidade de lado para exercer essas funções. É preciso, como em tudo, se dedicar e gostar do que faz.
Em uma fábrica de móveis de madeira na Região Metropolitana do Recife (RMR), nove dos 42 funcionários são mulheres, sendo que seis delas trabalham diretamente na linha de produção - há um ano, havia apenas uma funcionária. O aumento do número de mulheres é justificado. “Homem muda muito, as mulheres são mais estáveis na função. São mais focadas também, os rapazes querem ir ao banheiro e conversar toda hora. Acho que vamos começar a ter mais mulheres do que homens”, pondera o diretor da fábrica, Henrique Revoredo.
Dividindo-se entre cuidar dos filhos e o trabalho com a madeira, a auxiliar de produção Cristiane Ferrer diz ter se encontrado na atual função - estava trabalhando em um lava-jato quando surgiu a oportunidade. "Eu sempre fui 'jeitosa' com as coisas em casa, adoro trabalhar com madeira", conta Cristiane, que fez questão de tirar a touca que protege o cabelo durante o trabalho na hora da foto. "Com touca não dá, fica feio", afirma.
Também trabalhando na linha de produção, Geane Sheila acredita que não há diferença entre homens e mulheres. "O importante mesmo é a gente fazer o que gosta, aproveitar as oportunidades que aparecem", afirma Geane. "Elas dão muito menos dor de cabeça, são mais cuidadosas. A gente vê que elas têm um carinho com a madeira que os homens não têm", defende o gerente da fábrica, Petrúcio Luiz Filho.
Foi por buscar fazer o que gostava que Severina Pessoa foi trabalhar como mecânica de automóveis. "Eu sempre gostei de carros. Estava trabalhando revendendo veículos quando um quebrou na minha mão, no meio da estrada para Pombos, e tive que consertar", lembra Severina. Depois disso, ela resolveu montar uma oficina, que funciona desde 1989, próximo a um terminal de ônibus, em Jaboatão dos Guararapes, na RMR. "Meu marido olhou para mim, sem acreditar, mas sempre me apoiou", conta, orgulhosa.
O caminho não foi fácil, muitas pessoas desconfiaram da capacidade de Severina em consertar um carro, mas a mecânica não guarda mágoa, apenas histórias com as quais se diverte. "Chegava gente e logo perguntava se não tinha um homem. Eu dizia que tinha, já vinha. Aí olhava o carro, falava qual era o problema e saía. A pessoa ficava só olhando, desconfiada", relembra, bem humorada.
O caminho não foi fácil, muitas pessoas desconfiaram da capacidade de Severina em consertar um carro, mas a mecânica não guarda mágoa, apenas histórias com as quais se diverte. "Chegava gente e logo perguntava se não tinha um homem. Eu dizia que tinha, já vinha. Aí olhava o carro, falava qual era o problema e saía. A pessoa ficava só olhando, desconfiada", relembra, bem humorada.
Prestes a completar 60 anos, Severina não quer saber de parar de trabalhar, nem de divisão entre homens e mulheres nos trabalhos. "Não tem essa de trabalho de homem e de mulher. O que tem é você gostar. Eu mesma só ensino o trabalho a quem gosta", avisa a mecânica, que já tem a filha, Tatiana, trabalhando junto de si. "Quando eu me for, vai continuar tudo igual aqui, já que ela vai assumir", ri Severina.
Tanta dedicação da mãe é sinônimo de motivação para a filha, que desde pequena circula pela oficina. "Minha mãe é uma batalhadora, muito forte. Ela é uma inspiração, tem muita gente aí que não tem a força dela. Trabalhei um tempo fora, com baterias, mas voltei para trabalhar do lado dela", diz Tatiana.
Vaidosa, a matriarca faz questão de trabalhar arrumada, brinco, cordão, cabelo bem preso e batom, cuidado que a filha também tem. "Eu só não faço as unhas da mão porque o óleo do motor tira o esmalte na hora, mas tenho que estar bem arrumada", acredita. Devido ao macacão, já foi chamada de Pereirão na rua, em referência à personagem de Lília Cabral na novela das 21h. "É divertido, levo na boa", conta.
Com três filhos criados, sendo duas mulheres, Severina lembra que é preciso se dedicar sempre ao trabalho, independentemente da profissão escolhida. "A vida foi a minha escola. Você tem que buscar conhecer bem com o que está trabalhando, não posso ver um carro que não conheço que já peço para olhar, analisar. As baterias que vendo aqui, fui na fábrica ver como eram feitas", explica Severina.
Com três filhos criados, sendo duas mulheres, Severina lembra que é preciso se dedicar sempre ao trabalho, independentemente da profissão escolhida. "A vida foi a minha escola. Você tem que buscar conhecer bem com o que está trabalhando, não posso ver um carro que não conheço que já peço para olhar, analisar. As baterias que vendo aqui, fui na fábrica ver como eram feitas", explica Severina.
Durona
É assim que se define a professora de boxe Wha-Li Wamg - "aportuguesado" para Ruilí, 41 anos. "Sou durona em casa e no trabalho", afirma. Filha de um chinês com uma japonesa, ela nasceu no Recife e conheceu seu atual marido em uma academia, aos 16 anos. "Ele era meu professor de taekwondo. 'Bateu' na hora. Um ano depois nos casamos e, no ano seguinte tive um filho", contou. Hoje, são três rebentos, dois meninos e uma menina.
Após o casamento, Wha-Li dedicou-se ao lar. Há 11 anos, resolveu voltar aos treinos, agora, de kickboxing kyokushinkaikan, uma modalidade inspirada no karatê japonês. Virou faixa preta na arte marcial. "Há três anos dou aula de boxe. Nunca senti preconceito por ser mulher nessa profissão, porque as pessoas conhecem meu trabalho e sabem que eu sei o que estou fazendo", assegura.
Entre os alunos, a maioria é homem. "A verdade é que as meninas, geralmente, não aguentam o ritmo dos treinos. E os meninos nunca faltaram o respeito comigo, porque sou séria no trabalho, faço cara de má. E, se fizerem alguma indisciplina, mando pagar 20 flexões", brinca a professora. "No começo, eu estranhei o professor ser uma mulher. A primeira aparência é que ela vai pegar mais leve, mas é o contrário. Tive que dar o braço a torcer", admite o aluno Dinarte Carvalheira.
É assim que se define a professora de boxe Wha-Li Wamg - "aportuguesado" para Ruilí, 41 anos. "Sou durona em casa e no trabalho", afirma. Filha de um chinês com uma japonesa, ela nasceu no Recife e conheceu seu atual marido em uma academia, aos 16 anos. "Ele era meu professor de taekwondo. 'Bateu' na hora. Um ano depois nos casamos e, no ano seguinte tive um filho", contou. Hoje, são três rebentos, dois meninos e uma menina.
Após o casamento, Wha-Li dedicou-se ao lar. Há 11 anos, resolveu voltar aos treinos, agora, de kickboxing kyokushinkaikan, uma modalidade inspirada no karatê japonês. Virou faixa preta na arte marcial. "Há três anos dou aula de boxe. Nunca senti preconceito por ser mulher nessa profissão, porque as pessoas conhecem meu trabalho e sabem que eu sei o que estou fazendo", assegura.
Entre os alunos, a maioria é homem. "A verdade é que as meninas, geralmente, não aguentam o ritmo dos treinos. E os meninos nunca faltaram o respeito comigo, porque sou séria no trabalho, faço cara de má. E, se fizerem alguma indisciplina, mando pagar 20 flexões", brinca a professora. "No começo, eu estranhei o professor ser uma mulher. A primeira aparência é que ela vai pegar mais leve, mas é o contrário. Tive que dar o braço a torcer", admite o aluno Dinarte Carvalheira.
Na hora de posar para as fotos, ela capricha na cara de brava. Depois que confere o resultado, o riso aparece: "saí com a cara gorda", "o cabelo está tão curto." Coisas de mulher, que nem um esporte "durão" é capaz de reprimir. Tanto é que, debaixo das luvas, há unhas bem pintadas de azul claro. "A gente não pode perder a feminilidade nunca", comenta.
Mesmo dando aulas de boxe, Wha-Li não abandonou os afazeres domésticos. É uma espécie de Amélia moderna. "Continuo fazendo tudo em casa, não tenho empregada. Sou perfeccionista, quero tudo do meu jeito. Também controlo de perto os meus filhos. Sou bastante autoritária. Também não podemos dar moleza aos homens, ao marido. Só não posso dar um soco nele quando tenho raiva porque ele é mais graduado que eu", explica, aos risos.
Mesmo dando aulas de boxe, Wha-Li não abandonou os afazeres domésticos. É uma espécie de Amélia moderna. "Continuo fazendo tudo em casa, não tenho empregada. Sou perfeccionista, quero tudo do meu jeito. Também controlo de perto os meus filhos. Sou bastante autoritária. Também não podemos dar moleza aos homens, ao marido. Só não posso dar um soco nele quando tenho raiva porque ele é mais graduado que eu", explica, aos risos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário