O levantamento da PRF apontou que atropelamentos são a segunda maior causa de morte nas rodovias. A pesquisa revelou ainda que 80% das pessoas não consideram perigoso usar acostamento como calçada comum.
A Polícia Rodoviária fez uma constatação dramática. Os atropelamentos nas rodovias federais matam quase o mesmo número de pessoas que os acidentes com carros.
A Rodovia Presidente Dutra corta os estados do Rio de Janeiro e São Paulo e tem grande movimento e um alto índice de acidentes. Em quase toda sua extensão, há muitas comunidades na beira da estrada, e muitas pessoas resolvem atravessar a via em pontos em que não há passarela.
O levantamento apontou que os atropelamentos são a segunda maior causa de acidentes com morte nas rodovias de todo país. Foram 5.085 acidentes registrados em 2011.
O pedreiro Wilson estava voltando a pé para casa e decidiu fazer o caminho mais curto, ao tentar atravessar a rodovia que passa perto da casa dele. “Sofri fratura exposta e vou ficar seis meses sem trabalhar. Devia ter usado a passarela”, conta.
A história do pedreiro se juntou a vários outros casos que estão sendo estudados pelos inspetores do Polícia Rodoviária Federal: a antropóloga Marisa Dreys e o sociólogo Marcos Moura. Os policiais-pesquisadores decidiram ir além do simples registro dos casos. Estão indo de casa em casa, conversar com as vítimas de atropelamentos.
O levantamento revelou: com relação ao uso das estradas, 72% das pessoas que andam a pé em rodovias transformaram as estradas em um caminho de rotina. E 80% não consideram perigoso usar o acostamento como se fosse uma calçada comum.
Já com relação aos atropelamentos, as entrevistas revelaram diferenças entre o que foi registrado nos boletins de ocorrência e nas entrevistas mais detalhadas. Ao todo, 20% dos atropelados escondem das autoridades que estavam sob o efeito do álcool na hora do acidente ou que preferiram não usar as passarelas. E 40% dos atropelamentos aconteceram nos acostamentos, e 60% no meio da rodovia. Já dos atropelamentos que aconteceram à noite, 99% resultaram na morte das vítimas.
Quase a totalidade das pessoas foi atropelada depois de ter atravessado a metade da rodovia. Foi o que aconteceu com o filho de dona Rosilene. Os dois moram em Itaboraí, Região Metropolitana do Rio, perto da BR-101, e atravessaram a estrada para ir até uma loja comprar sapatos. Na segunda pista, o menino foi atropelado e quebrou a perna. “Passa muito carro dia e noite direto”, conta a senhora.
“É uma questão de visibilidade. Elas conseguem enxergar o primeiro momento, mas não conseguem enxergar o segundo. Rodovia não é lugar para se atravessar fora da passarela”, aponta a inspetora Marisa Dreys, da Polícia Rodoviária Federal do RJ
A comunidade vai crescendo, o povoado vai aumentando e, quando nós vemos, as ruas e as praças acabam ficando perto da rodovia. Uma estrada separa a comunidade de seus destinos. A fresta no muro que divide a rodovia é o caminho mais curto para as pessoas que vivem no bairro que foi chegando.
“Isso significa que nos bairros periféricos à rodovia não existe equipamento urbano e estrutura viária suficientes para essa demanda de trânsito das pessoas e nos ensina que essa questão do atropelamento é um problema seriíssimo e que exige um esforço, tanto do ponto de vista de educação, engenharia e de fiscalização”, declara o inspetor Marcos Moura, da Polícia Rodoviária Federal do RJ.
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