Barbearias, empórios e farmácias ainda mantêm estilo antigo.
Donos apontam que ar retrô atrai clientela fixa.
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São Paulo completa 458 no dia 25 com a previsão de receber mais nove shoppings até 2014. As lojas em estilo moderno, que têm computadores, iluminação e até odores artificiais pensados para agradar o cliente, em nada lembram uma São Paulo que ainda existe aqui e ali, escondida nos bairros. Uma pequena parte da cidade “parou no tempo” e guarda tradições do início do século 19. E até fez disso em marca para atrair o público.
É o caso do Empório Rio Grande, que fica na rua de mesmo nome, na Vila Mariana, na Zona Sul. Quem entra no local tem a impressão de estar em um antigo armazém. Prateleiras da madeira ocupam as paredes até o teto – o pé direito tem mais de 5 metros. Uma caixa registradora em que o valor em números aparece ao lado de uma inscrição “mil réis” dá a ideia da antiguidade do local. Ele foi aberto em 1916 e tem esse número inscrito na parede externa em romano – o que era comum em alguns imóveis da época.
A proprietária também representa um período importante da formação da cidade. Preciosa Oliveira, de 71 anos, foi um dos 235 mil portugueses a emigrar para o país na década de 50. Chegou aos 14 anos e, após se casar, comprou o empório com o marido em 1966. Desde então, atende os fregueses. “Esse foi o primeiro comércio da Vila Mariana”, garante.
Ela diz não ligar para a concorrência de uma padaria moderna em frente ao seu estabelecimento. “Os modernos não querem saber daqui. Mas, em compensação, outras pessoas gostam da tradição. Tem gente que vem até para tirar fotos”, relata. Outra coisa que as pessoas buscam nesse ambiente retrô é o atendimento "pessoal" que havia no passado, quando o comerciante era também um amigo de muitos clientes e aproveitava as visitas deles para colocar a conversa em dia.
BarbeariaA inauguração da rede de barbearias 9 de Julho na Galeria Ouro Velho, na região central, em 2007, é um sinal de como o “estilo antigo tem adeptos”. Com placas com imagens de “cabeleiras” famosas do passado, como a de Elvis Presley, a rede ganhou fama e já abriu duas outras unidades, uma no Itaim Bibi, na Zona Sul, e outra no Centro.
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O estilo foi em parte baseado em barbearias antigas que ainda existem. É o caso do Salão Phidias, de 1965, cujo nome homenageia o famoso escultor grego, um dos responsáveis pela reconstrução da Acrópole, em Atenas. Para o proprietário, Luis Antonio da Silva, de 57 anos, a arquitetura de seu salão é igualmente invejável, ainda que mais modesta. “Pias individuais e piso com pedra portuguesa são coisas que não existem mais. Preservar ajudou a formar uma marca, a deixar a barbearia famosa”, diz Silva.
O salão tem cadeiras de madeira e foi fundado em uma época em que o barbeiro trabalhava de gravata – que também era usada pelos clientes. Localizado na galeria R. Monteiro, o salão já cortou o cabelo de membros da família Safra e Granadeiro Guimarães. Hoje, o corte sai por R$ 40.
FarmárciaO farmacêutico Paulo Queiroz Marques, de 90 anos, mantém quase inalterada desde os anos 60 a "Pharmácia" Drogamérica, na Rua Itacolomi, em Higienópolis, na região central. A loja tem inúmeras prateleiras de madeira e recipientes de porcelana italiana e francesa onde os produtos são guardados. Um pequeno espaço na vitrine é reservado a um museu com diversos recipientes usados há décadas atrás para a formulação de remédios.
O antigo se mistura com o novo, porém, já que computadores estão distribuídos ao longo da bancada.
"O museu e a mobília são uma homenagem às antigas farmácias de manipulação, que começaram a desaparecer com o crescimento da indústria no século 20. Nesse tipo de farmácia, o atendimento e a formulação individualiza o paciente, enquanto a indústria padroniza", diz o farmacêutico. Essa memória também é preservada no Museu da Santa Casa de Misericórdia, cuja sala dedicada à Farmácia ele ajudou a montar.
Paulo mexe com medicamentos desde os 6 anos por influência do pai, Joaquim Marques, dono da única farmácia em Itaberá, no sudoeste do estado, no início do século passado. Veio para São Paulo para especializar-se no tema aos 18 anos. Hoje, diz considerar-se um promotor da saúde, e não vendedor de remédios.
Para Douglas Nascimento, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a cidade é muito mal conservada, e casas de moradores e comerciantes que conseguem conservar as características históricas e culturais de seus bens são casos dignos de nota. "É muito caro preservar um imóvel. Há várias exigências. E o poder público não ajuda", afirma.
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