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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

'Parecia praça de guerra', relata brasileira que sobreviveu a naufrágio

 

Lourdes Sola e o marido estavam no navio acidentado Costa Concordia.
Erro humano pode ter causado o naufrágio, diz jornalista que vive na Suíça.

Eduardo Carvalho Do G1 em São Paulo




“Depois de ouvir sete apitos e mais um longo, que é o sinal de emergência, você pensa nas coisas que são importantes, como sua família e fica um clima muito pesado”, relata a jornalista brasileira Lourdes Sola, 53 anos, sobre a sensação que teve ao saber que deveria abandonar o cruzeiro Costa Concordia, que naufragou na última sexta-feira (13), próximo à ilha de Giglio, na Itália.
Lourdes havia acabado de chegar em sua casa, em Genebra, na Suíça, quando atendeu, por telefone, a reportagem do G1 neste domingo (15). “Estávamos tentando entrar, porque perdemos a chave no naufrágio, assim como todos os documentos. Aqui a Polícia tem que ser acionada para que possamos contratar um chaveiro”, conta.
O acidente deixou pelo menos 40 feridos, dois deles em estado grave. Cerca de 15 pessoas continuam desaparecidas. Dois corpos de vítimas foram encontrados neste domingo, elevando para cinco o número de mortos.
Acostumados a participar de cruzeiros e também a velejar, ela e o marido, o médico Branderley Claudio, 62 anos, passaram pela primeira situação de emergência em alto mar e presenciou uma situação de caos durante o salvamento no interior do cruzeiro e, posteriormente, na ilha de Giglio. “Parecia uma praça de guerra”, comenta.
A jornalista conta que estava jantando quando, por volta das 22h10, ela e o marido sentiram uma alteração no movimento do navio. “Conhecemos um pouco sobre navegação e percebemos uma alteração na hélice. Parecia que estavam tentando tirar a embarcação de algo. Isso só foi confirmado quando a garrafa de vinho que estava em nossa mesa foi para o outro lado e as coisas começaram a cair, porque o navio se inclinou para o lado esquerdo”, disse.
Ela relata que após este momento as pessoas começaram correr e a levantar das mesas após anúncios emitidos por alto-falantes, vindos da cabine de comando, informando que o problema era devido à uma queda de energia e que já estava sendo ajustado.
A jornalista brasileira Lourdes Sola, que estava no navio Costa Concordia durante o acidente (Foto: Reprodução)
 
 
A jornalista brasileira Lourdes Sola, que
relatou drama vivido na Itália com navio
Costa Concordia (Foto: Reprodução)
 
Avisos
Lourdes conta que ao voltar para sua cabine as portas estavam todas abertas. Ela e o marido colocaram mesas para segurá-las, já que havia o risco delas travarem. “As portas eram eletrônicas e com os cortes de energia elas poderiam não abrir mais. Creio que muitas pessoas ficaram presas por conta disto”, disse.
“Percebemos que o cruzeiro estava muito perto da ilha, o que era estranho. Porém, após a colisão, o navio deu uma volta de 180º, fato que fez a embarcação se inclinar para o lado direito. Essa manobra pode ter dado um pouco mais de tempo para a retirada da tripulação e dos passageiros antes do naufrágio”, disse.
Ao menos três alertas em códigos foram ouvidos até que o sinal de emergência, oito apitos, sendo que o último era mais longo (que indica o abandono de navio) foi emitido. “Neste momento, nos dirigimos à ponte de desembarque, mas o que vimos era uma confusão grande. Quem nos ajudava a entrar nos botes eram funcionários da cozinha e garçons, despreparados, quase não tinha oficiais por lá. Outro problema é que os botes estavam travados devido à inclinação do navio e as pessoas começaram a ficar nervosas”, explica.
O casal então decidiu verificar como estava o salvamento dos passageiros no lado do navio que já estava afundando e constatou agilidade no atendimento. “Faltou voz de comando para falar às pessoas que estavam do outro lado para ir rumo à direção onde a operação de salvamento funcionava. Tanto que depois muita gente só foi resgatada de helicóptero”, explicou.


Na ilha
Os brasileiros desembarcaram pouco depois da meia-noite de sábado (14) na ilha de Giglio, onde havia mais confusão. “Tinha muita gente com frio (a temperatura era de 7 ºC), mas a população nos ajudou. Uma senhora me deu um edredom, que acabei doando mais tarde para duas pessoas que nadaram desde o cruzeiro até a ilha”, afirmou.
Documentos como passaportes, além de cartões de crédito, ficaram presos no cofre da cabine. “A polícia da Itália nos deu um documento para que possamos refazer tudo que perdemos, além de possibilitar o retorno da viagem. Durante o percurso de volta, percebemos um espírito de solidariedade nas pessoas. Todos queriam ajudar de uma forma ou de outra. Foi uma experiência terrível. Muito triste acabar um cruzeiro desta forma”, afirma.
A jornalista afirma que ninguém da empresa Costa Cruzeiro entrou em contato para fornecer informações sobre indenização. Os brasileiros disseram ainda que o acidente pode ter ocorrido por imperícia do comandante.
“Acho que está evidente que foi erro humano. Um navio deste porte não poderia se aproximar tanto da ilha. Mas só a caixa-preta (que grava informações sobre as operações e diálogos realizados na cabine de comando) é que vai dar mais informações sobre o fato”.
Arte Costa Concordia (Foto: Arte G1)

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