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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Flagrantes mostram médicos que não cumprem horário de trabalho

 

Pacientes esperam horas na fila pelo atendimento – isso quando tem atendimento. Os flagrantes foram feitos no Rio de Janeiro.









O Bom Dia Brasil começa a edição desta sexta com flagrantes feitos no Rio de Janeiro: médicos que não cumprem o horário de trabalho na rede pública de saúde. Muitas vezes, pacientes esperam horas na fila por ninguém. O médico faltou sem dar justificativa.
Às 10h de uma terça-feira em Bangu, Zona Oeste do Rio, o consultório particular da pediatra Maria Lúcia Ferreira Magalhães está lotado. “Só confirmar: é Maria Lúcia Ferreira Magalhães. Ela fica aqui até as 12h”, diz a atendente.
Nada demais se Maria Lúcia não recebesse aproximadamente R$ 3,4 mil para neste horário estar no plantão no Miguel Couto. O hospital público na Zona Sul da cidade fica a cerca de 45 quilômetros da clínica particular em Bangu. No consultório, a equipe de reportagem se identificou e tentou ouvi-la. “Ela não pode atender a gente?”, pergunta o repórter. “Agora não”, responde a atendente.
Deixamos o consultório e vamos ao Miguel Couto. Claro, ninguém consegue encontrar a médica. Ela falou que estava fazendo um atendimento e que viria, só que pelo visto ela até agora não apareceu. Uma hora e meia depois de começarmos a perguntar pela médica, ela aparece e, novamente, não quer falar.
“Eu vou falar com ela, depois eu vejo. Porque eu falei pra você: não tem como garantir que ela fale”, alega uma atendente.
Ao chegar, a médica não vai para o seu posto de trabalho, mas se tranca na sala da direção. Às 15h34 é a hora que a doutora Maria Lúcia está chegando ao hospital. Ela tinha um plantão desde as 8h. Maria Lúcia Ferreira Magalhães é concursada. Tem a estabilidade do serviço público e a conivência dos colegas.
A médica que fala conosco é Ivanete Pereira Coelho, chefe da pediatria do Miguel Couto e chefe de Maria Lúcia. É assim que ela trata o atraso de sete horas e meia da médica, que estava atendendo em seu consultório particular.
“Simplesmente ela tinha avisado que ia chegar um pouco mais tarde, estava com problema, tudo. Mas tem a equipe médica e a equipe médica deu suporte. O plantão estava calmo, estava tranquilo”, alega Ivanete Pereira Coelho, chefe da pediatria do Hospital Miguel Couto.
O caso não é isolado. As faltas se espalham pela rede pública, como em uma policlínica na Zona Norte do Rio. “Ah, não. Meu Deus, o Dr. Vladimir não vem”, lamenta uma senhora. Todos vão para a fila remarcar a consulta. Tentamos saber por que o médico faltou e só avisou que não viria em cima da hora. A pergunta parece surpreender mais do que a falta.
“O senhor quer saber por que ele faltou? Ele deve ter passado mal, provavelmente, né? Veja bem, se o médico faltou é porque houve um motivo, certo? Agora o porquê, ele pode simplesmente se limitar a dizer que ele teve um problema pessoal. Ponto”, justifica um funcionário.
Pelos postos de saúde da cidade, nenhum agendamento é garantia de conseguir ver um médico. “Só vamos saber mesmo se o doutor virá ou não lá pelas 7h30”, disse um atendente.
Márcia Rosa de Araújo, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), reconhece o que a população já sabe: os médicos faltam aos plantões. Mas ela acha que há uma justificativa para esse comportamento.
“Eu acho que isso é questão administrativa. Eles falam assim: ‘Ah, eu finjo que te pago e você finge que trabalha’. Essa é uma conversa velha. Se eles quiserem implantar ordem na casa, eles implantam. E aí eles vão ter de pagar direito”, afirmou a presidente do Cremerj.
Para o médico Isnar Castro, gestor técnico da Secretaria Estadual de Saúde do Rio, o salário baixo não pode ser desculpa para descaso no trabalho. “Concurso público paga pouco. Mas se o concurso é público, por que você fez? Se você não quer aquele concurso, não faça. Agora não adianta fazer o concurso sabendo que paga pouco e a regra é aquela. Depois você entra e aí não quer seguir a regra?”, indaga Isnar Castro.
Baixos salários, pouco compromisso e corporativismo – enquanto esses problemas não são resolvidos, é a população que sofre, como em um posto na Zona Oeste. Depois de uma madrugada inteira na fila, os pacientes são recebidos assim: “Hoje eu só tenho 20 números para clínico. Ontem nem teve. Quem veio ontem sabe disso. Otorrino não tem, pediatra não tem. Dermatologia só tenho dez números”, disse um atendente.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informou que abriu uma sindicância para apurar a frequência da doutora Maria Lúcia Ferreira Magalhães, a pediatra que estava atendendo em seu consultório particular quando deveria estar no plantão no hospital.

fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/12/flagrantes-mostram-medicos-que-nao-cumprem-horario-de-trabalho.html

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