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sábado, 29 de outubro de 2011

Sob prédio moderno, casa do século 18 é restaurada em SP

Casa Bandeirista do Itaim Bibi fica em quarteirão da Avenida Faria Lima.
Incorporadora entregará o imóvel histórico junto com edifício de 19 andares.

Carolina Iskandarian Do G1 SP
Casa Bandeirista (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
 
 
Casa Bandeirista está na fase final do restauro (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
Sob um vão de 30 metros de altura por 45 metros de largura, parte integrante da paisagem de um prédio comercial espelhado que sobe a passos acelerados na Avenida Faria Lima, repousa uma casa do século 18. A Casa Bandeirista do Itaim Bibi, localizada no bairro de mesmo nome em São Paulo, está sendo totalmente restaurada e faz parte do terreno do edifício, projetado com 19 andares e seis subsolos. Antes habitada e visitada por fazendeiros, pequenos comerciantes e religiosos do Brasil colonial, a residência virou sanatório entre as décadas de 1920 e 1980 e agora os restauradores torcem para que vire um centro cultural.
A Casa Bandeirista foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), vinculado à Secretaria de Estado da Cultura, em 1982, dois anos depois de o Sanatório Bela Vista ter fechado as portas. O arquiteto e restaurador Alberto Magno de Arruda, responsável pelo restauro do imóvel, diz que a construção sofreu muitas intervenções ao longo dos séculos.
“Existiam uns quatro pisos em cima do piso original. Na época do sanatório, esses 500 m² viraram 2 mil m². Foram construindo em volta”, conta Arruda sobre as modificações no terreno, que tem entrada também pela Avenida Horário Láfer. A arquiteta e urbanista Helena Saia, responsável pelo projeto de restauração, resume o estado da Casa Bandeirista quando a equipe foi contratada para colocá-la de pé novamente, em 2007. “A casa estava absolutamente arruinada. O constrangedor é que ela é tombada.”
Casa Bandeirista (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
 
 
Casa Bandeirista fica sob vão de um prédio comercial que está subindo na Avenida Faria Lima (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)

A Casa Bandeirista, chamada assim por pertencer a famílias de bandeirantes, os desbravadores do território brasileiro, tem nove cômodos, que incluem sala, quartos, despensa e até uma pequena capela. Agora pertence ao Grupo Victor Malzoni, que comprou o prédio comercial na avenida, tida como um dos principais centros empresariais de São Paulo. O edifício deve ser entregue até dezembro, segundo a estimativa de José de Albuquerque, diretor de Incorporação de São Paulo da Brookfield, responsável pela construção do edifício.
Albuquerque fala da dificuldade em tocar uma obra grande e, ao mesmo tempo, deixar a casa praticamente intocável, só nas mãos dos restauradores. “Foi difícil porque tivemos a escavação de seis subsolos com 18 metros de profundidade em torno da casa.” Para evitar problemas, a casa foi coberta com uma tela e uma estrutura metálica. Acostumado a prazos apertados, Albuquerque confessa que estranhou o andamento da restauração.
Casa Bandeirista (Foto: Divulgação/ Helena Saia)
 
Restauradores encontraram o local em ruínas
(Foto: Divulgação/ Helena Saia)
“É uma obra lenta, muito diferente do ritmo da obra normal. A gente, do mercado imobiliário, faz tudo em dois anos e entrega. Esse é um serviço delicado, que tem que ser feito com qualidade." Ele explica que o vão no prédio, que deixa os fundos da Casa Bandeirista à mostra na movimentada Avenida Faria Lima, foi pensado de propósito para deixar a construção de mais de 200 anos em destaque. “Quisemos deixar um prédio moderno e, ao fundo, a Casa Bandeirista restaurada, que vamos entregar de presente à cidade.”
O G1 procurou o Grupo Victor Malzoni para saber que destino a empresa dará ao imóvel histórico, mas não obteve retorno. Se depender da arquiteta Helena, a Casa Bandeirista deve servir para ensinar sobre parte da história do país. “Agora, vai ficar um conjunto. É um restauro para educar. A gente não faz o restauro para deixar a nossa cara, mas para mostrar como era a vida na época.”
Segundo a Secretaria da Cultura, em 1896, após sucessivos proprietários, a área foi adquirida pelo general Couto de Magalhães, que comprou mais terras à sua volta. No início da década de 1910, seu sobrinho, Leopoldo Couto de Magalhães, apelidado de "Bibi", iniciou o loteamento da área. O nome do bairro Itaim Bibi é uma referência a ele.
Obra embargada
Casa Bandeirista (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
 
 
Operários trabalham no jardim que mostra a frente
da casa (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
Em 2009, o Ministério Público Federal pediu que fosse feita uma escavação na área para investigar o sítio arqueológico e, portanto, toda a obra parasse. Helena diz que já existe uma pesquisa arqueológica feita em 1988, que revelou, entre outras peças, cacos de louça antiga. Mesmo assim, cumpriu a determinação. De abril de 2009 a setembro de 2010, o trabalho foi então paralisado.
“Achei um monte de dentaduras, seringas, frascos de remédio do sanatório. Não vi nada que fosse mais importante do que as madeiras e o altar”, afirma a arquiteta, referindo-se aos pedaços de madeira-de-lei embutidos nas janelas e paredes de concreto e taipa quebradas durante o restauro. O altar é uma espécie de mesa, que ficava na capela e foi comprada de um fazendeiro que adquiriu o móvel anos antes. Segundo a arquiteta, esses objetos “comprovam que a casa é bandeirista”.
Apesar do trabalho minucioso, de fora, a Casa Bandeirista parece bem simples. Está pintada de branco e tem portas e janelas em madeira cumaru, de alta resistência. As fechaduras e chaves foram feitas em ferro exatamente como na época de sua construção, de acordo com o restaurador Alberto Arruda. A parede de taipa, totalmente restaurada e na cor original, volta a adornar o cômodo da capela, que receberá o altar novamente.
“Nada foi destruído; 100% foi preservado. A pessoa entra e faz uma leitura de que aqui era uma capela”, explica Alberto. A poucos metros de guindastes, sondas e britadeiras usados na obra do prédio comercial, os “operários-restauradores” trabalham com os detalhes e também correm contra o tempo. Mas o tempo deles é outro.
Casa Bandeirista (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
 
Equipe trabalha no restauro da Casa Bandeirista (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
 

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