Exemplar mais antigo é de 1904; acervo está em quatro depósitos.
Colecionador tem ainda todos os números da Playboy e de outras revistas.
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Uma paixão que já dura uma vida. Aos 59 anos de idade, Silvyo Amarante admira, lê e coleciona todos os tipos de quadrinhos desde os seis. São mais de 150 mil revistas espalhadas em quatro depósitos, além dos exemplares que tem na loja que montou há 15 anos em Fortaleza, um estoque tão grande quanto a coleção particular. Para Amarante, o hobby virou estilo de vida.
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Fã de criações dos desenhistas e roteiristas Hall Foster (1892-1982) e Frank Miller, autores de "O príncipe valente" e "A queda de Murdock", respectivamente, Amarante fala com orgulho das obras que guarda como tesouros. "'O príncipe valente' é deslumbrante. Fazer algo assim em uma época sem recursos, imagino o que ele [Foster] faria hoje", afirma.
Clássicos da década de 40, como as revistas O guri e Gibi, que acabaram virando sinônimo de quadrinhos no Brasil, também fazem parte da coleção. Mas, Amarante revela que o acervo vai além dos quadrinhos. Ele diz ter todas as edições da Revista do esporte e da revista masculina Playboy, por exemplo. "Uma vez tive a ideia de fazer um museu para consultas. Um dia um estudante veio e roubou sete Playboys minhas. Me zanguei e acabei com o museu", conta o colecionador, que tem como peça mais antiga uma revista datada de 1904.
“Graças a minha coleção me tornei amigo de artistas que admiro, como Al Rio [Mulher Maravilha], Ed Bennes [Liga da Justiça] e Clark Kenji Yamamoto [artista independente]. Já trabalhei escrevendo monólogos para Chico Anysio e conheci outros tantos talentos, me sinto um privilegiado”, afirma o homem que já foi chamado de louco por parentes e amigos.
O começo
A paixão do colecionador começou quando o dono de uma fábrica de sapatos, no Centro de Fortaleza, decidiu colar as páginas da revista O cruzeiro (1928) nas paredes do estabelecimento, inclusive os cartoons. “Eu tinha seis anos e morava vizinho a fábrica. Eu passava horas lendo as páginas, o dono [da fábrica] me emprestava um cavalete para eu ler até os mais altos”, conta Amarante que começou a admirar os quadrinhos por meio da charge Os amigos da onça, trazido pela revista.
A paixão do colecionador começou quando o dono de uma fábrica de sapatos, no Centro de Fortaleza, decidiu colar as páginas da revista O cruzeiro (1928) nas paredes do estabelecimento, inclusive os cartoons. “Eu tinha seis anos e morava vizinho a fábrica. Eu passava horas lendo as páginas, o dono [da fábrica] me emprestava um cavalete para eu ler até os mais altos”, conta Amarante que começou a admirar os quadrinhos por meio da charge Os amigos da onça, trazido pela revista.
Aos 10 anos, quando já frequentava a feira de colecionadores aos domingos na Praça José de Alencar, também no Centro, disse ter encontrado um “velhinho” tentando se desfazer de uma pilha de revistas que tinha em casa. “Era de manhã e eu fui embora com ele para o Henrique Jorge [Bairro de Fortaleza]. Passei o dia inteiro na casa dele. Voltei para casa umas 21h em um carro de praça cheio de revistas, no meu colo, no banco de trás, no porta-malas, umas duas mil que eu comprei sem ter um tostão no bolso. Saí da casa do velhinho dizendo que meu pai ia pagar”, disse.
Mas, ao chegar em casa, o garoto fã de quadrinhos encontrou todos chorando pelo desaparecimento dele. “Quando me viram com revistas, meu pai disse para não falarem nada porque eu era doido”, disse sorrindo e acrescentando, “mas ele pagou tudo pro velhinho”. O problema passou a ser o espaço para guardar tantos quadrinhos. O tempo passou e Silvyo Amarante, aos 17 anos, montou a primeira loja, localizada no Centro da cidade com cinco funcionários.
Juventude
“O piso do mezanino era coberto de posteres de mulheres nuas, todos tinham de tirar os sapatos para entrar. O pessoal adorava, não era fácil conseguir aquilo” contou. A loja só durou um ano, a proprietária do prédio não quis renovar o contrato de aluguel porque achava o ambiente “errado”. O jovem então partiu para a faculdade, fez seis semestres de economia e seis de administração, largou as duas faculdades e disse para o pai que se continuasse seria “um péssimo administrador e um economista medíocre”.
“O piso do mezanino era coberto de posteres de mulheres nuas, todos tinham de tirar os sapatos para entrar. O pessoal adorava, não era fácil conseguir aquilo” contou. A loja só durou um ano, a proprietária do prédio não quis renovar o contrato de aluguel porque achava o ambiente “errado”. O jovem então partiu para a faculdade, fez seis semestres de economia e seis de administração, largou as duas faculdades e disse para o pai que se continuasse seria “um péssimo administrador e um economista medíocre”.
“Ele [o pai] me respondeu que eu só servia para duas coisas, cuidar de uma casa de jogos ou de uma livraria. Ele estava certo, acabei abrindo uma lotérica [em 1984] e o nome era Quadrinhos. As pessoas achavam que era por causa da cerâmica nas paredes, mas era por causa das revistas que estavam por toda parte”, conta. Mas antes da lotérica, em 1982, Silvyo se casou e passou por tempos financeiros difíceis.
Sem espaço
Amarante conta que eles alugaram dois apartamentos no Bairro Dionísio Torres. No 3º andar eles moravam, no 2º funcionava um depósito de revistas. A renda melhorou quando o colecionador conseguiu a lotérica. “Eu tinha revistas em todo lugar, em casa, no apartamento de baixo, nas escadarias do prédio, na casa da minha mãe, numa fazenda do meu pai e na lotérica. Chegou ao ponto de as pessoas encontrarem revistas até nas mesas usadas para fazer os jogos”, diz Amarante, que se tornou pai também em 1984.
Amarante conta que eles alugaram dois apartamentos no Bairro Dionísio Torres. No 3º andar eles moravam, no 2º funcionava um depósito de revistas. A renda melhorou quando o colecionador conseguiu a lotérica. “Eu tinha revistas em todo lugar, em casa, no apartamento de baixo, nas escadarias do prédio, na casa da minha mãe, numa fazenda do meu pai e na lotérica. Chegou ao ponto de as pessoas encontrarem revistas até nas mesas usadas para fazer os jogos”, diz Amarante, que se tornou pai também em 1984.
As coisas continuaram assim até que, em 30 de dezembro de 1989, Amarante usou tudo que tinha na poupança (10 milhões de Cruzados) e o dinheiro da venda de um terreno (50 milhões de Cruzados) para comprar a coleção de três mil exemplares de um amigo empresário. “Valia muito mais que isso. Mas eu fiquei sem um centavo. Aí meu mundo caiu, fui chamado de maluco, idiota, abestado, a única que não falou nada foi minha esposa. Me senti mal”, conta o Amarante.
A crítica mexeu tanto com o colecionador que ele decidiu pôr preço nas revistas compradas e vender a outros colecionadores pelo maior valor oferecido. “Depois de vender 598 exemplares, consegui 183 milhões de Cruzados. Foi a minha vingança. Mostrei que sabia o que estava fazendo”, disse ele, acrescentando que as vendas terminaram.
Com o aumento da coleção, Amarante disse que um depósito que pudesse receber todo o acervo se fez necessário. O colecionador, então, preparou um grande depósito ao lado da casa do pai por volta de 1994. A mudança do material foi feita em um dia, o mesmo em que ele prestigiava uma apresentação de Chico Anysio onde declamava o texto “M”, escrito por Amarante e que virou livro em 2011 (Editora Expressão Gráfica). As caixas foram empilhadas para serem arrumadas depois.
“Naquela noite teve uma chuva fina, o riacho perto da casa do meu pai subiu. No dia seguinte me ligaram falando que o depósito tinha alagado. Só lembro de abrir duas caixas com coleções estragadas: Roy Rogeres [década de 50, Editora Brasil-América] e Gene Autry [década de 40, Editora Brasil-América] dos números um ao 100, duas das mais valiosas que eu tinha. Daí pra frente só lembro que passei o dia jogando caixas foras”, conta, acrescentando, “o trauma foi tão grande que de lá para cá só entrei umas 20 vezes no depósito, não gosto”.
Silvyo Amarante diz que o episódio lhe “desencantou”, por isso, deixou de procurar aumentar a coleção, ficou apenas com o que sobrou do alagamento. Em 1996, desfez-se da lotérica e montou a loja, onde também adquire exemplares para coleção sempre que tem oportunidade. Mesmo “desencantado”, a coleção do empresário cresceu consideravelmente, preenchendo quatro depósitos. Para ele, o lado fã ainda é o mais forte.
O lojista garante que não vende itens da coleção, a menos que tenha mais de um exemplar, fato não tão incomum. Sendo assim, a loja que mantém há 15 anos tem desde artigos comuns a qualquer banca de jornal, até artigos especializados e raros. “Hoje, comercialmente o mais rentável são os Comics [histórias em quadrinhos estilo norte-americano], mas os que vendo em maior quantidade são os Mangás [estilo japonês]. Mas também tenho Fumetti [estilo italiano], Manhwa [estilo asiático], o Europeu e até os independentes”, conta.
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