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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Documentos apontam: juíza sabia que estava marcada para morrer

 

Os ofícios, encontrados no gabinete de Patricia Acioli, revelam o medo. Segundo os documentos, ela temia pela falta de proteção.


O advogado da família da juíza assassinada no Rio de Janeiro disse na terça-feira (16) que Patrícia Acioli não queria a suspensão da escolta policial que recebia. Exibiu documentos como prova. A juíza sabia que estava marcada para morrer e chegou a enviar ofícios ao Tribunal de Justiça do Rio.
No dia seguinte à morte da juíza, o atual presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), Manoel Alberto Rebêlo, declarou: “Quando chegou em 2007, o Tribunal de Justiça, nas avaliações que faz a respeito, chegou à conclusão de que não havia necessidade de ela continuar com a segurança intensa como ela vinha tendo até então e propôs reduzir o número de policiais que iriam trabalhar na segurança dela. Ela, então, achou que aquilo ali não era necessário”.
Mas documentos encontrados no gabinete de Patríca Acioli e que serão entregues nesta quarta-feira (17) pelo advogado da família da juíza, Técio Lins e Silva, ao presidente do Tribunal de Justiça comprovam que a magistrada temia por sua segurança.
“Há uma correspondência grande ao longo dos últimos anos pedindo segurança, reclamando segurança, inclusive correspondência da própria. Até a Polícia Federal encaminhou certa feita o resultado de uma interceptação da Justiça que estava sendo feita com decisão judicial na qual surgiu o nome dela. Surgiu a ameaça e o anúncio da morte”, contou o advogado da família da juíza, Técio Lins e Silva.
Em um ofício de fevereiro de 2007, endereçado ao diretor-geral de segurança do Tribunal de Justiça, a juíza diz que não pode receber um novo policial na sua escolta, porque os filhos já estão acostumados aos atuais integrantes depois de um processo de adaptação demorado e trabalhoso.
A juíza destaca que uma das filhas estava sob tratamento psicológico com sintomas de síndrome do pânico. Patrícia Acioli solicita a volta de um ex-integrante da escolta e ressalta que naquele momento sua segurança era feita apenas por três policiais militares, sendo imprescindível a vinda de um quarto policial.
Outro documento foi escrito em julho e enviado ao juiz Mário Mazza, auxiliar do então presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Murta Ribeiro. Patrícia Acioli diz ter recebido a visita do major Silvio Guerra, responsável pela segurança do Tribunal de Justiça. Segundo a magistrada, o major comunicou a ela ter havido uma reavaliação da sua segurança pessoal e que o presidente do Tribunal de Justiça havia determinado a retirada de um policial de sua escolta, que seria reduzida a um PM por dia. Esse policial teria de se transportar por meios próprios ou no carro da juíza.
A juíza afirma que, apesar de não ser especialista em segurança, desconhece como isso poderia significar segurança para qualquer pessoa e ressalta que a escolta deve ser eficiente, sob pena de se estar gastando dinheiro público sem finalidade.
No documento a juíza afirma: “Entendendo que a questão envolvendo minha vida é algo muito importante, não entendi o tratamento que foi dado ao caso”. Ela conclui dizendo que “aguarda a ordem chegar de forma correta, por escrito, para cumpri-la imediatamente”.
Outro documento revela o plano de um contraventor da cidade de São Gonçalo. Em uma escuta telefônica, ele dá a entender que fará um atentado. O informe de inteligência da Polícia Federal foi feito em julho de 2009. Em uma anotação feita à mão no canto da página, é possível ler também: “Oficie-se a presidência do Tribunal de Justiça", "a Procuradoria de Justiça" e "a Secretaria de Segurança Pública".
No documento, um agente informa ao delegado da Polícia Federal em Niterói que, em uma interceptação telefônica, o bicheiro Luis Anderson de Azeredo Coutinho demonstra grande rancor contra Patrícia Acioli e afirma que “uma bomba irá explodir em São Gonçalo. A pessoa que bate o martelo irá chorar lágrimas de sangue”. Diz que “a ordem já teria sido dada”.
Em outra conversa telefônica, o bicheiro afirma que a atitude contra a juíza seria, na verdade, uma representação na Corregedoria de Justiça. Mas, diz o documento, como o bicheiro temia estar sendo monitorado, a segunda conversa poderia ser apenas uma dissimulação. Diante da gravidade dos fatos, a Polícia Federal avisou a juíza Patrícia Acioli para que ela tomasse medidas de cautela.
Os documentos vão ser entregues hoje ao Tribunal de Justiça do Rio. O desembargador Murta Ribeiro, que era presidente do TJ em 2007, quando a proteção à juíza foi retirada, afirmou por telefone que a decisão de reduzir a escolta foi normal, porque quando um juiz recebe uma ameaça e ela não se concretiza, a segurança é desmobilizada para atender outro juiz.
Murta Ribeiro disse ainda que não lembra se enviou por escrito à juíza a ordem para redução da escolta, mas acredita que não tenha enviado porque, segundo o desembargador, do ponto de vista da hierarquia, isso não faria sentido.
O desembargador Luiz Zveiter, que era presidente do Tribunal de Justiça em 2009, disse que avaliou que o comunicado da Polícia Federal se referia à representação feita pelos advogados do bicheiro Luis Anderson Azeredo na corregedoria do tribunal. Esta avaliação foi confirmada, segundo Zveiter, porque dias depois da interceptação do telefonema, a representação contra a juíza efetivamente ocorreu. Ele disse que esteve com a magistrada e que, em nenhum momento, ela disse ter sofrido ameaças.
O procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes, não se lembra de ter recebido nenhum ofício envolvendo o nome da juíza Patrícia Acioli, mas disse que este informe pode ter chegado ao Ministério Público e não necessariamente ter passado por ele. Cláudio Lopes disse também que vai fazer um levantamento para ver se este ofício chegou e se foi encaminhado para o órgão competente.
A assessoria da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro não localizou o secretário José Mariano Beltrame. A assessoria da Polícia Federal disse que não vai se pronunciar.

fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/08/documentos-apontam-juiza-sabia-que-estava-marcada-para-morrer.html

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