SÃO PAULO – Nos últimos dias, a taxa de câmbio tem apresentado quedas consecutivas que levaram o dólar a patamares vistos anteriormente apenas no final da década de 1990. "Nós nos surpreendemos com a valorização do real", afirma o vice-presidente de Marketing do Grupo Confidence, Paulo Volpe.
Com a moeda em baixa, há quem sofra desvantagens, como os exportadores, e há também um grupo que se beneficie, como os consumidores. Mas de que forma o dólar cotado a R$ 1,564 (*) ajuda o bolso?
"A primeira área em que realmente mexe é a viagem internacional", destaca o professor do Ibmec do Distrito Federal, Aquiles Rocha de Farias. "Hoje, viajar para os Estados Unidos chega a ser mais barato do que para alguns destinos do Nordeste. Para a Europa também, algumas cidades como Londres e outras da Suíça, que são tipicamente caras, hoje estão mais acessíveis para os brasileiros".
Ele ainda destaca outro item beneficiado pela queda do dólar: "Qualquer produto importado passa a ser acessível. Principalmente itens dos supermercados e até automóveis". Farias lembra que a chegada de veículos chineses forçaram a queda dos preços daqueles carros já comercializados no Brasil.
Aumento do poder de compra
Volpe, por sua vez, destaca que a valorização do real faz com que aumente o poder de compra do consumidor brasileiro em dólar e outras moedas estrangeiras.
Ele explica que as pessoas continuam disponibilizando a mesma quantidade de dinheiro para viajar, mas a diferença é que conseguem comprar mais dólar com o mesmo montante. "Uma camiseta de Nova York que custava R$ 100 agora custa R$ 80", exemplifica.
A condição para quem viaja hoje é muito mais satisfatória do que há cerca de 15 anos. Tanto é que é possível almoçar no centro de Paris ou tomar um café ao lado do Coliseu, em Roma, pelos mesmos valores encontrados em São Paulo.
"Uma pessoa que andava de mochila pela Europa 20 anos atrás não entrava em restaurantes, pois eles eram cinco vezes mais caros do que os encontrados em bairros nobres da capital paulista", recorda Volpe. "É uma mudança radical. Nunca tivemos uma situação como essa".
É hora de investir?
Em relação aos investimentos, o professor do Ibmec-DF aponta que a queda do dólar beneficia a compra de ativos, tanto ações quanto imóveis, em países estrangeiros.
"No caso dos imóveis, há três benefícios. Como a crise em alguns países desenvolvidos ainda não encerrou, os preços ficam mais baratos, e ainda há as taxas de câmbio favoráveis. Além disso, nos Estados Unidos, por exemplo, existe facilidade para o financiamento", explica.
Porém, ele salienta que, para aplicação em fundos cambiais, é necessário pensar no longo prazo. "Não há garantia plena de que o dólar vai subir, o que depende, principalmente, da recuperação econômica fora do País e da redução da taxa de juros aqui no Brasil. É bem mais fácil ele ficar nesse nível do que subir", aponta.
Expectativa
Dentro do curto e do médio prazo, Farias prevê que a taxa de câmbio deve oscilar em torno de R$ 1,60. "A não ser que aconteça alguma ruptura lá fora".
Em relação ao Brasil, o que poderia interferir de forma mais intensa na cotação seria o Governo Federal controlar mais fortemente a taxa cambial. Porém, ele lembra que "não há indícios de que isso vai ocorrer".
"Medidas pontuais podem acontecer, como o aumento do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], mas não interfere de forma drástica no dólar", completa.
Alguns cuidados
De acordo com o professor do curso de Especialização em Gestão de Operações e Serviços Bancários da Fundação Vanzolini, Ricardo Rocha, o ideal seria ter uma taxa de câmbio que permitisse ao consumidor viajar e comprar produtos importados e, ao mesmo tempo, que mantivesse a inflação baixa e as exportações altas. Porém, "nós temos que aprender a conviver com um câmbio flutuante", orienta.
Por isso, Farias alerta que os consumidores devem estar sempre atentos. "Para realizar compras lá fora, vale a pena usar o cartão pré-pago, que não tem cobrança de IOF e a pessoa não sofre com flutuações, pois já fica com o dinheiro convertido", indica.
No caso de o consumidor decidir comprar com cartão de crédito, o educador do Ibmec-DF ensina que mudanças drásticas do câmbio dificilmente ocorrem da noite para o dia. "Por isso, se a pessoa perceber que o dólar subiu para um patamar perigoso, dá para ela quitar antecipadamente as parcelas do cartão, utilizando a cotação do dia".
Influências
"O que a gente nota é que a cotação da moeda tem sido influenciada pelo fluxo financeiro para o Brasil – seja o fluxo da bolsa ou de renda fixa –, por investimentos diretos e por muito dinheiro que tinha ido embora e voltou", destaca Rocha.
Além disso, ele lembra dos dois grandes eventos esportivos internacionais que serão realizados no País na próxima década: a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. "É meio batido o que eu vou falar, mas é verdade! Temos dois eventos de caráter internacional que, juntamente com o crescimento da demanda interna, faz com que o Brasil receba bastante investimento".
Outros fatores que também ajudam a manter o dólar baixo, completa Farias, são a política dos Estados Unidos de injetar dinheiro na economia deles, a diferença entre a taxa básica de juros americana (entre 0% e 0,25% ao ano) e a brasileira (12,25%), a melhora do rating do Brasil e o crescimento econômico do País.
(*) Cotação do dia 06 de junho de 2011

fonte: http://dinheiro.br.msn.com/suascontas/montanha-russa-do-d%c3%b3lar-veja-como-aproveitar-o-c%c3%a2mbio-em-queda-2?page=0