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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Professor 'queridinho' de escola estadual de SP aposta no diálogo



Paulo Prado Von Atzingen, de 55 anos, dá aulas de história na Raul Cortez.
Neste Dia dos Professores ele diz que recompensa é evolução dos alunos.

Vanessa FajardoDo G1, em São Paulo
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Professor Paulo Neto, o "Praga", com os alunos da escola Raul Cortez (Foto: Arquivo pessoal)Professor Paulo Neto, o "Praga", com os alunos da
escola Raul Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Quando entrou na faculdade de história na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Paulo Prado Von Atzingen Neto, de 55 anos, não pensava em lecionar. Queria trabalhar com pesquisa, mas, após ter uma experiência como professor substituto, resolveu seguir a carreira. E já se foram 21 anos. Desde 2006, dá aulas na escola estadual Raul Cortez, localizada na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, onde tornou-se o 'queridinho' entre os estudantes.
No Dia dos Professores, comemorado nesta segunda-feira (15), Neto, apelidado por seus alunos como 'Praga' - ele não soube explicar o motivo, mas garante que não é pejorativo - diz que o segredo para ser bem aceito na sala de aula é o diálogo. Ele costuma conversar com as crianças e adolescentes, ouvir seus problemas e distribuir conselhos. Está sempre aberto para um bom papo.
"A ausência da família é muito gritante. As crianças não têm com quem conversar, se abrir. Você não é só professor, precisa dialogar. É preciso transmitir os valores que a família não deu. A violência, por exemplo, está tão impregnada que o aluno nem percebe suas atitudes, faz parte do cotidiano", diz Neto.
Atualmente, o professor dá aulas de história para as turmas de 7º, 8º e 9º ano, mas também já lecionou para o ensino médio. O início da carreira foi na rede particular de ensino, no colégio Externato Paraíso. Migrou para rede pública após ser aprovado em um concurso.
Neto afirma que a profissão exige amor, e a relação formal entre aluno e professor não é suficiente para ser eficaz. "Tem de ter vínculo. Você se torna uma pessoa importante na vida deles. É preciso saber lidar com problemas como pobreza, alcoolismo, drogas... Tem criança que vai para escola para ter o que comer."
O professor lembra de um garoto "muito pequeno", do 6º ano, que uma certa vez disse que não iria mais voltar para casa e que gostaria de morar com ele. "O menino não se dava bem com a família e disse que queria morar com alguém que gostasse dele. Sentei e conversei muito."
O pintor pinta com sentimento, na música é a mesma coisa, por que o professor não pode trabalhar com sentimento? A nossa matéria-prima é o ser humano, e ensinar é algo indispensável"
professor Paulo Prado, de 55 anos
Outra situação de que Neto se recorda foi quando uma garota do 9º ano parou a aula para dizer ao professor que precisava conversar. No meio da classe, levantou e começou a contar os problemas da família, a saudade que sentia do pai que morava do Nordeste e a dificuldade para fazer amigos. "Tive de parar a aula, ouvir, conduzir. Outros alunos relataram problemas, abri espaço para todos. Foi uma terapia. Vire e mexe isso acontece e você é obrigado a conversar sobre a vida e suas escolhas."
Apesar de estar sempre aberto a um conversa e ser interessar pelos problemas dos alunos, Neto não deixa de cobrá-los em sala de aula. Chama a atenção quando há indisciplina e exige bons desempenhos nas avaliações. "Não podemos ser paternalistas, eu dou limites, e sempre os questiono. 'Estão preparados para as provas?' É a cobrança que a família deveria fazer, mas muitas vezes não faz."
Professor Paulo com alunos da escola Raul Cortez, onde leciona desde 2006 (Foto: Arquivo pessoal)Professor Paulo com alunos da escola Raul Cortez,
onde leciona desde 2006 (Foto: Arquivo pessoal)
Herança genética
'Praga' afirma que o DNA da docência está na família. Seu tio-avó foi professor de alemão e há notícia de professoras em seus antepassados. A filha dele, Maria Carolina, de 33 anos, se formou em nutrição, fez mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e hoje dá aulas em uma universidade particular.
A recompensa da profissão, segundo Neto, é ver o desenvolvimento. Ele se orgulha ao contar que reencontrou um aluno que tornou-se engenheiro de alimentos de uma empresa multinacional e de outra que está fazendo faculdade em Portugal. "Essas coisas acontecem, por isso eu sempre digo a eles: estudar vale a pena."
Nesta segunda-feira, Neto deve seguir a rotina comum que tem durante a semana: chega na escola às 7h e vai embora depois das 18h. Assim como nos anos anteriores, segundo ele, não deve receber muitos parabéns pelo seu dia. "Não me importo. O que importa mesmo é o trabalho que a gente realiza, a luta diária para que estas crianças se tornem pessoas e tenham uma relação positiva com o mundo."
Uma dica para quem está no início da carreira? Ensinar com sentimento. "O pintor pinta com sentimento, na música é a mesma coisa, por que o professor não pode trabalhar com sentimento? A nossa matéria-prima é o ser humano, e ensinar é algo indispensável."
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