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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Em desvantagem, indústria de eletroportáteis perde espaço para importados


  • Sem incentivos ao setor, produtos chineses dominam mercado. Dólar alto pode afetar abastecimento
ELIANE OLIVEIRA (EMAIL)
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José Augusto de Castro, presidente em exercício da AEB, Castro, da AEB, prevê impacto no fim do ano
Foto: Márcia Foletto
José Augusto de Castro, presidente em exercício da AEB, Castro, da AEB, prevê impacto no fim do ano Márcia Foletto
BRASÍLIA — Sem condições de concorrer com os importados, a indústria nacional praticamente parou de fabricar os chamados aparelhos portáteis, como ferros elétricos, aparelhos de barbear, torradeiras, panelas elétricas e cafeteiras. Os empresários que ainda insistem em produzir essa categoria de itens registram quantidades mínimas se comparadas com o que vem dos países asiáticos, especialmente da China. Um levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee) a pedido do GLOBO mostra que, de 2007 a 2010, as importações desses produtos cresceram 86%, passando de US$ 80,5 milhões para US$ 150 milhões.
Usando dados do IBGE e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a Abinee constatou que, em 2010, foram produzidos 448 mil aspiradores de pó no Brasil e importados 2,4 milhões de unidades. No mesmo ano, o país produziu 13,8 milhões de liquidificadores e espremedores de frutas e importou 73 milhões desses produtos. De aquecedores de ambiente, apenas 25 mil eram nacionais e um milhão importados. Secadores de cabelo (incluindo chapinhas) foram 3,7 milhões de produção local e 9 milhões de importados.
Essa situação perdura há anos, mas, se a alta contínua do dólar ante o real durar mais tempo, o consumidor brasileiro terá dificuldades para presentear, nas festas de fim de ano, parentes e amigos com aparelhos elétricos portáteis. Isso porque o encarecimento da moeda americana levará à redução das importações e, assim, esses produtos ficarão mais caros. E ainda escassos, devido à baixa produção nacional.
— A indústria brasileira não aproveitou o crescimento da renda da população. Boa parte do esforço de inclusão de pessoas no mercado de consumo no Brasil viabilizou a produção de outros países — lamentou o presidente da Abinee, Humberto Barbato.
Governo dará ‘atenção especial’ ao setor
Ele explicou que, além do câmbio, os empresários brasileiros estão em desvantagem por uma série de razões, sendo as principais os entraves em infraestrutura e logística. Segundo Barbato, a produção de ferro elétrico para uso doméstico e aparelho de barbear, entre outros exemplos, é tão pequena que sequer aparece nas estatísticas oficiais. Ele garantiu que, havendo queda das importações e espaço para as empresas nacionais, a produção desses produtos no país começa imediatamente.
O mesmo avalia Alexandre Cabral, diretor de Setores Intensivos em Capital e Tecnologia do MDIC. Ele admitiu que, na chamada família de eletroeletrônicos, os eletroportáteis não receberam a mesma prioridade do governo federal como os produtos de linha branca: máquinas de lavar, fogões e geladeira; e linha marrom, com destaque para televisões e outros aparelhos de áudio e vídeo. Graças aos incentivos dados a essas duas categorias de itens, 90% dos artigos vendidos no Brasil são fabricados por empresas nacionais. No caso dos portáteis, 30% são nacionais e 70% importados.
— Uma das características das linhas branca e marrom é que os produtos pesam para serem transportados, o que ajuda a indústria nacional, enquanto os portáteis são leves e fáceis de trazer para o Brasil — observou Cabral.
Ele revelou que os eletroportáteis terão atenção especial em 2014. Desde 2012, são tomadas medidas para evitar o ingresso irregular desses produtos, com barreiras técnicas. No entanto, explicou o técnico do MDIC, a fiscalização só será melhorada ano que vem, quando forem colocados fiscais do Inmetro nos portos, aeroportos e fronteiras. Também devem ser anunciados incentivos para que os produtores nacionais possam investir em design.
Risco de inflação nos eletroeletrônicos
Boa parte desses produtos são objeto de ações antidumping para proteger a indústria nacional. No entanto, a grande dificuldade de se abrir um processo administrativo é que, muitas vezes, não há no Brasil produtos similares para garantir o abastecimento do mercado. Pelas contas do governo e de especialistas, o aumento do dólar verificado desde abril, da ordem de 7%, vai se refletir na economia dentro de três a seis meses, o que coincide com as festas de fim de ano.
— Tudo indica que teremos um Natal tenebroso — previu o presidente da Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares (Abipp), Gustavo Dedivitz.
Existe o risco de uma inflação de eletroeletrônicos como há tempos não se via. Os números produzidos pelo Banco Central mostram que os aparelhos eletrônicos ficaram 1,98% mais caros em maio. Para o economista da Tendências Felipe Salto, a situação fica difícil para o consumidor e para o próprio fabricante nacional.
— A situação da indústria brasileira é calamitosa. Além da taxa de câmbio, há um problema estrutural de competitividade — disse Salto.
De acordo com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, há importadores que já pensam em rever encomendas que começam a ser feitas de junho a setembro, para as festas de fim de ano.
— Esse tipo de oscilação só prejudica as negociações dos contratos — enfatizou Castro.
Bruno Menezes, do site de compras de produtos americanos Mercado Direto, disse que até o presente momento não houve baixa nas importações, apesar da alta no câmbio este ano. As vendas não foram afetadas.
— Há uma demanda crescente por produtos importados pelos consumidores brasileiros. Nossas vendas têm uma alta geralmente a partir do mês de setembro, que é quando o mercado brasileiro se aquece devido ao Natal. Com isso esperamos que nossas vendas aumentem e não sintam a alta do dólar ao menos por agora — comentou Menezes.


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