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quinta-feira, 18 de julho de 2013

'Não há um manual' para controle de confusão em protestos, diz Beltrame


Para secretário de Segurança do Rio, polícia tem que 'agir de forma fria'.
Governador Sérgio Cabral convocou cúpula após confrontos na quarta (17).

Do G1 Rio
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O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou na manhã desta quinta-feira (18) que "não há um manual" de segurança de como atuar em situações de "turba ou confusão", como classificou o tumulto da noite de quarta em manifestação na Zona Sul, que ocorreu em paz na maior parte do tempo e acabou com confronto e atos de vandalismo (veja a íntegra da entrevista das autoridades no vídeo ao lado).
"Existem protocolos e maneiras de você atuar dentro de manifestações planejadas. Não há um protocolo no mundo para se atuar em turba ou confusão", disse o secretário (assista à reportagem do Bom Dia Brasil no vídeo ao lado com imagens exclusivas de atos de vandalismo, saques e depredações).
Segundo Beltrame, a polícia tem que agir de forma fria durante as manifestações. "Não há um manual, nada mágico para você resolver a situação como ontem. Está na capacidade e poder de discernimento para agir neste contexto."
O governador Sérgio Cabral convocou uma reunião de emergência no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, para discutir a atuação das forças de segurança nas manifestações. Além dele e de Beltrame, participaram a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha; o comandante da PM, coronel Erir da Costa Filho; o chefe do Estado-Maior da PM, coronel Alberto Pinheiro Neto; e os secretários da Casa Civil, Regis Fichtner, e de Governo, Wilson Carlos Carvalho.
Não há um protocolo no mundo para se atuar em turba ou confusão"
José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro
Protesto no Leblon, na Zona Sul do Rio, termina com cenas de vandalismo (Foto: Lucas Landau/ Reuters)Tropa de Choque foi acionada durante protesto no
Leblon, que terminou com atos de vandalismo e
confronto com a PM (Foto: Lucas Landau/ Reuters)
O gás lacrimogêneo, que todo mundo reclama, é o menos letal. O gás é para dispersar os vândalos. E falam para nós não usarmos o gás. E nossa ação não deu certo. Esse pacto, que foi feito com as autoridades, não deu certo
Coronel Erir Costa Ribeiro, comandante
da Polícia Militar do Rio de Janeiro
Rescaldo do protesto contra o governo carioca realizado no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro (RJ), na manhã desta quinta-feira (18). (Foto: Alessandro Buzas/Futura Press/Estadão Conteúdo)Zona Sul do Rio amanheceu com marcas de ações
de vandalismo, como vidraças quebradas (Foto:
Alessandro Buzas/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Beltrame disse que o campo operacional irá fazer mudanças na ação da PM, mas rebateu as acusações de abusos cometidos pela polícia. "Para tachar alguém de ter cometido excesso, eu preciso dar o direito a ampla defesa. Sindicâncias são abertas para ter o efetivo apuratório", afirmou o secretário, garantindo que, se constatado excessos, haverá a punição devida, "seguindo os procedimentos normais da corporação".
Planejamento para o Papa 'está pronto'
O secretário disse ainda que o planejamento para a visita do Papa está pronto. "Ele tem um protocolo. A gente sabe o que vai acontecer na agenda desta autoridade", afirmou. "A questão da manifestação é diferente, a PM está adaptando, porque não há uma agenda coordenada. A gente está atento, mas tem que ver quando vai acontecer, se isso vai acontecer, porque a gente não tem esta informação."
'Nossa ação não deu certo'
O comandante da Polícia Militar, coronel Erir Costa Ribeiro, afirmou que "é impossível" não usar munições menos letais durante os protestos. "O gás lacrimogêneo, que todo mundo reclama, é o menos letal. O gás é para dispersar os vândalos. E falam para nós não usarmos o gás. E nossa ação não deu certo. Esse pacto, que foi feito com as autoridades, não deu certo."
"Depois da farda aqui, somos policiais militares. Mas somos cidadãos também. Se a PM não estiver ali, é anarquia. E todos temos que ter responsabilidade. Ninguém sabe quem está por trás", disse o comandante, confirmando que a PM vai "repensar" a atuação depois do cenário de tumulto registrado ontem.
Erir Ribeiro destacou ainda a dificuldade de dialogar com os manifestantes devido à ausência de um líder e afirmou que os profissionais de imprensa descaracterizados dificultam saber quem é jornalista. "Você sabe quem é o policial militar, eu estou identificado. Mas hoje a própria mídia não está identificada. É novo, e esse novo, todo mundo precisa aprender."
O coronel Alberto Pinheiro Neto, chefe do Estado-Maior da PM, também disse que o acordo que houve entre PM e manifestantes, para não usar o gás no protesto, não deu certo. Segundo ele, a PM ainda está analisando as técnicas que serão usadas de agora em diante, trocando informações com outras partes do mundo. Ele falou que a PM foi atacada e só agiu depois disso.
Em entrevista à rádio CBN, o coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público, Marcio Mother, que esteve presente na manifestação, disse que os "protestos se transformaram em tumulto e baderna". Segundo ele, há pessoas infiltradas com "más intenções", obrigando a polícia a agir. Mother disse que não viu excessos na ação da PM.
A delegada-chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, diz que há prisões de vândalos. Segundo ela, foram identificadas 16 pessoas por incitação ao crime. Ela afirmou que a polícia segue investigando, mas que as prisões pelos crimes que ocorrem – vandalismo, formação de quadrilha e incitação ao crime, dano, desacato e lesão corporal – preveem fiança ou dependem de representação.
Centenas de manifestantes participam de protesto próximo à residência do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, no Leblon. Policiais fizeram uma barreira em frente ao local. (Foto: Ariel Subirá/Futura Press/Estadão Conteúdo)Centenas de manifestantes participam de protesto
perto da residência de Cabral; PM montou barreira
(Foto: Ariel Subirá/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Protesto no Leblon, na Zona Sul do Rio, termina com cenas de vandalismo (Foto: Reynaldo Vasconcelos/ Futura Press/ Estadão Conteúdo)Protesto teve cenas de vandalismo (Foto: Reynaldo
Vasconcelos/ Futura Press/ Estadão Conteúdo)
Manifestação acaba em confronto
Na noite de quarta-feira (17), uma manifestação na Zona Sul do Rio de Janeiro terminou em confronto com a polícia.Imagens do Bom Dia Brasil mostram atos de vandalismo nos bairros do Leblon e de Ipanema, que amanheceram com marcas de destruição. Agências bancárias e caixas eletrônicos foram atacados, lojas foram saqueadas e fogueiras foram feitas com lixo e papel, interditando várias ruas no entorno da avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, e da rua Visconde de Pirajá, em Ipanema.
O Batalhão de Choque da Polícia Militar utilizou dezenas de bombas de gás para dispersar o protesto. Segundo a PM, pelo menos 1000 pedras portuguesas foram retiradas da calçada por manifestantes. Quatro PMs ficaram feridos com pedradas. Outra policial foi ferida nas costas por uma bomba de fabricação caseira. O número de manifestantes feridos é desconhecido.
O protesto iniciou de maneira pacífica e ocorreu sem problemas durante a maior parte do tempo. Em coro, manifestantes gritaram palavras de ordem contra o governador. Uma barreira de policiais militares impediu a aproximação das pessoas do prédio onde Cabral reside.
De acordo com a página convocando a manifestação na internet, o grupo reivindica CPIs da Delta, da Copa e do Helicóptero (cujo uso por Cabral é investigado pelo Ministério Público). Os manifestantes também são contrários à privatização do Maracanã, ao fim do antigo Museu do Índio, às remoções compulsórias e às privatizações por conta da Copa. Pedem ainda a desmilitarização da polícia e o impeachment de Cabral e do vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
Por volta das 7h desta quinta, a rua Aristides Espínola, onde mora Cabral, tinha policiamento reforçado, com grades nas calçadas. Em Ipanema, onde também houve depredação de lojas e agências bancárias, vários carros da PM estavam no local.
Cabral culpa opositores
Em nota, o governador Sérgio Cabral declarou após as manifestações que "a oposição busca antecipar o calendário eleitoral criando constrangimentos à governabilidade". "O governador, legitimamente eleito por 67% dos votos no 1º turno nas ultimas eleições, reitera o seu compromisso de continuar a manter o Rio de Janeiro na rota do desenvolvimento social e econômico", diz o comunicado. A acusação foi rebatida por possíveis concorrentes à eleição em 2014, segundo reportagem do O Globo.
Cabral não participou da entrevista coletiva após a reunião com a cúpula de segurança do Rio. Ele disse que o secretário Beltrame tinha expressado a opinião do governo.
Moradora que não quis se identificar mostra fotos de seu celular de jovens saqueando a loja (Foto: Lilian Quaino/G1)Moradora que não quis se identificar mostra foto no
celular que mostra jovens saqueando uma loja no 
bairro do Leblon na quarta (Foto: Lilian Quaino/G1)
Lojistas lamentam prejuízo
Proprietários e funcionários de lojas atacadas na noite de quarta-feira mostramperplexidade, indignação e muita tristeza com a destruição encontrada. A loja de roupas Toulon, na esquina da avenida Ataulfo de Paiva com a Aristídes Espínola, por exemplo, foi totalmente saqueada depois de ter as vidraças destruídas.
Com lágrimas nos olhos, o diretor da marca, Mario Gabão, orientava a colocação das portas de madeiras improvisadas e recebia a solidariedade de moradores do bairro. Uma jovem, que preferiu não se identificar, ofereceu fotos que tirou com seu celular na hora em que a loja era depredada e saqueada. Numa das imagens aparece um jovem carregando roupas (leia mais depoimentos sobre as depredações).


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