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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria: o que já se sabe e as perguntas a responder



Alvará, lotação e falta de saída de emergência são pontos investigados.
Incêndio em boate deixou 231 mortos em Santa Maria no domingo (27).

Do G1, em São Paulo
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O incêndio que atingiu a Boate Kiss, na madrugada de domingo (27) e deixou  mais de 230 mortos em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, tem uma série de pontos a serem investigados pela Polícia Civil e pelas autoridades.
Questões básicas como qual era o número de pessoas dentro da boate no momento da tragédia e se a boate poderia funcionar sem ter saída de emergência permanecem ainda não esclarecidas.
Leia a seguir o que já se sabe sobre pontos-chave da investigação, segundo as versões relatadas por testemunhas, autoridades e donos da boate, e as perguntas que ainda precisam ser respondidas.
Alvará de funcionamento da boate (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: O alvará fornecido pelo Corpo de Bombeiros para o funcionamento do estabelecimento está vencido desde agosto de 2012.
As versões: Segundo o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, a documentação com a prefeitura estava em ordem e o que estava vencida era apenas a alvará concedida pelos bombeiros. A boate sustenta que a situação estava regular pois já havia pedido a renovação. Em depoimento à polícia, um dos donos da boate disse que os bombeiros fizeram uma série de exigências e recomendações para a renovação do Plano de Prevenção e Controle de Incêndios.
O que falta ser esclarecido: A polícia apura quais exigências feitas pelos bombeiros os donos da boate já haviam cumprido e como estava o processo de renovação.
 
Saídas de emergência e sinalização na boate (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: A Kiss só possuia uma entrada principal, que também era a única saída.  O estabelecimento não tinha outras portas auxiliares ou janelas.
As versões: A boate afirmou em nota que contava com "todos os equipamentos previsíveis e necessários  para o sistema de proteção e combate contra o incêndio, aprovado pelo Corpo de Bombeiros, adequado às necessidades da casa e de seus freqüentadores". Testemunham relataram que a boate não possuía sinalização de emergência e que o local ficou às escuras logo que o fogo começou, o que dificultou a saída do público.
O que falta ser esclarecido: Ainda não está claro se o estabelecimento deveria dispor de mais de uma saída para ter licença de funcionamento. Em entrevista ao Jornal Hoje, o prefeito de Santa Maria, disse que esta é uma "questão de natureza técnica", que não tinha condições de responder.
 
Regras para concessão de alvarás para estabelecimentos como casas noturnas (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: Não existe uma lei nacional que estabeleça as regras de prevenção e proteção contra incêndios. As leis são estaduais e, por isso, cada governo estabelece uma lei com base em normas locais ou estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou mesmo pela Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). A concessão de alvarás de funcionamento para estabelecimentos como casas noturnas  no país hoje é feita pelos bombeiros e autoridades locais, baseados em normas estaduais.
As versões: No caso da lei vigente no estado do Rio Grande do Sul, dispositivos de extração de fumaça (aberturas no teto) e detector de fumaça não são obrigatórios. “Se o escape fosse obrigatório, a fumaça, no caso de Santa Maria, dissiparia muito mais rápido. As pessoas morreram intoxicadas lá. Já com o detector de fumaça, rapidamente os seguranças perceberiam o incêndio e ajudariam a liberar as pessoas logo no começo do incêndio”, afirma o engenheiro civil Carlos Wengrover Rosa.
O que falta ser esclarecido: A polícia apura se as instalações da boate atendiam às exigências da lei esdadual e do Corpo de Bombeiros.
 
Origem e causas do incêndio (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: O fogo começou por volta das 2h30 de domingo, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que realizou uma espécie de show pirotécnico, e se alastrou rapidamente devido ao material usado para o isolamento acústico..
As versões: Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um bastão sinalizador conhecido como "sputnik" atingiram o teto da boate, à esquerda do palco, que era forrado de espuma e isopor. Já a banda disse à polícia que o modelo usado na apresentação não tinha capacidade de provocar incêndio. Os músicos disseram que houve um curto-circuito em fios que estavam no teto do palco após o equipamento conhecido como "sputnik" ser utilizado. Segundo eles, o grupo já tocava uma outra música quando o fogo teve início.
O que falta ser esclarecido: Peritos acharam no chão da boate pedaços do sinalizador, que será analisado durante as investigações das causas e dos responsáveis pela tragédia. A polícia também apurar a hipótese de curto-circuito como origem do fogo.
 
Show pirotécnico dentro de boate (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: Os efeitos pirotécnicos durante o show do Gurizada Fandangueira, relatados como possível causa do incêndio eram comuns durante as performances da banda.
As versões: Não há lei que proíba um show de fogos de artifício em ambientes fechados, de acordo com especialistas consultados pelo G1. No entanto, para que a pirotecnia possa ser feira é preciso da liberação do Corpo de Bombeiros, que avaliará as condições do local.
O que falta ser esclarecido: As autoridades ainda não esclareceram se a banda tinha autorização para shows pirotécnicos dentro da boate Kiss.
 
Extintores e equipamentos de controle de incêndio (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: Pelo menos um extintor não teria funcionado.
As versões: Testemunhas relataram que alguns seguranças tentaram apagar as chamas no teto da boate com extintores e que estes não teriam funcionado. Segundo o guitarrista do grupo Gurizada Fandangueira, Rodrigo Martins, um segurança e o próprio vocalista tentaram operar o equipamento, que falhou. A boate sustenta que contava com "todos os equipamentos previsíveis e necessários para o sistema de proteção e combate contra o incêndio"
O que falta ser esclarecido: A investigação deverá apurar se os equipamentos estavam regularizados e em condições de funcionamento e se os funcionários souberam manuseá-los de maneira adequada.
 
Capacidade da boate e público presente no momento do incêndio (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: O número de pessoas que estava dentro da boate ainda é desconhecido.
Versões: Segundo informações da própria casa noturna, a capacidade máxima é para mil clientes. De acordo com o delegado Sandro Meinerz, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas. O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto de 1,5 mil.
O que falta ser esclarecido: qual era o número e se o público era superior à capacidade máxima.
 
Saída dos clientes e ação dos seguranças e funcionários (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: Assim que começou o incêndio, centenas de pessoas ficaram desesperadas e começaram a correr em busca de uma saída para a rua. Houve tumulto e,  inicialmente, seguranças da boate tentaram impedir a saída dos clientes, mas que logo perceberam a fumaça e liberaram a passagem.
As versões: Testemunhas relataram que os seguranças bloquearam a porta da boate, o que teria atrapalhado a evacuação, e que os funcionários barraram as pessoas que tentavam sair sem pagar a comanda. Sobreviventes disseram também que a saída da boate foi dificultada por uma grade colocada perto da porta para organizar a fila de entrada, o que fez muita gente cair no chão e acabar pisoteada.
O que falta ser esclarecido: A polícia deve investigar se os funcionários seguiram o protocolo correto para situações de emergência e se os seguranças receberam orientação prévia da direção da casa para barrar clientes em caso de tumultos.
 

Maioria dos corpos retirados de dentro dos banheiros (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros da boate.
As versões: O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou morrendo. Testemunhas afirmam que muitas pessoas foram para a porta dos banheiros achando que era a saída da boate e acabaram ficando presas ali.
O que falta ser esclarecido: Os investigadores apuram porque as pessoas fizeram dos banheiros uma alternativa de saída e se problemas na sinalização da boate teriam confundido os clientes.
 
Morte por asfixia (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: a maioria dos mortos, cerca de 90%, tiveram como causa da morte asfixia mecânica.
As versões:  A médica legista Maria Ângela Zuccheto, coordenadora regional de perícia da área de Santa Maria, afirmou que 90% dos mortos tiveram asfixia como causa da morte em razão da rapidez com que o fogo se alastrou e a quantidade de fumaça. Segundo o pneumologista José Eduardo Afonso Junior, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, a fumaça deveria conter substâncias tóxicas liberadas devido à queima de materiais inflamáveis, como a espuma do isolamento acústico presente no teto do estabelecimento.
O que falta ser esclarecido: ainda não está claro se vítimas morreram após terem sido pisoteadas no tumulto.
 
Duração do incêndio e momento das mortes (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: A agonia de parentes e amigos começou por volta das 3h da madrugada de domingo, mas o momento em que ocorreram as mortes não foi determinado. A combinação da fumaça com o calor das chamas causa danos diretos ao sistema respiratório, podendo provocar o óbito de quem estiver em um ambiente fechado em poucos minutos.
As versões: A perícia acredita que muitas das vítimas possam ter morrido poucos minutos após o início do incêndio. O médico otorrinolaringologista Richard Voegels, do Hospital das Clínicas da Universidade da USP, explica que 5 minutos sem respirar pode provocar parada cardiorrespiratória. "Quando se inala muita fumaça com monóxido de carbono, a substância acessa o alvéolo [onde ocorre a troca gasosa entre o oxigênio, que entra no sangue, e o gás carbônico, que é retirado] e entra em contato com as hemácias do sangue, que transportam oxigênio para os órgãos. Isso impede a oxigenação do corpo e, em questão de minutos a pessoa pode morrer”, diz.
O que falta ser esclarecido: a polícia apura se vítimas morreram asfixiadas antes de poderem tentar achar a saída da boate.
 
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Imagens das câmeras de segurança da boate (Foto: Editoria de Arte/G1)
O que já se sabe: não foram localizadas imagens das câmeras da boate. Policiais cumpriram na noite de domingo mandados de busca e apreensão na casa dos sócios, mas não localizaram o material.
As versões: Segundo a polícia, não foram localizados na boate os gravadores que armazenam as imagens da boate. “Parecia que os fios tinham sido arrancados. Não sabemos afirmar se foi recente ou não. Peritos ainda irão analisar”, disse o delegado Sandro Meinerz. O dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr, afirmou em sua defesa que o sistema não estava funcionando havia três meses e que, por isso, o computador não estava mais na boate.
O que falta ser esclarecido: a polícia apura se o equipamento foi de fato retirado da boate antes do incêndio.

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Infográfico: tragédia de Santa Maria (Foto: Arte G1)

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