Presos negociavam drogas e praticavam extorsões de dentro da cadeia.
Delegado diz que os 17 celulares apreendidos são de última geração.
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Após escutas telefônicas mostrarem que presos usam celulares livremente de dentro dos presídios no Rio, o delegado Márcio Mendonça, responsável pela investigação, disse, nesta sexta-feira (27), que é preciso uma nova tecnologia para impedir a ação dos criminosos.
Mesmo com uma série de equipamentos usados pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) para barrar a entrada de celulares e drogas nos presídios, presos usavam os aparelhos com frequência para praticar crimes e até acessar contas bancárias.
“Fica demonstrado se há bloqueadores dentro do presídio, ele não estava inibindo a ação desses criminosos. Eles continuam praticando os crimes. Eles conseguiam encomendar drogas e conseguiam fazer contatos com parentes para que as drogas entrassem na cadeia. Tem que se criar uma tecnologia que impeça o funcionamento dos celulares. Eles tinham acesso à internet a qualquer momento. Então, é uma tecnologia que tem de ser avançada para impedir que eles façam contato”, disse o delegado.
Segundo ele, os presos passavam 24 horas por dia fazendo ligações para as vítimas para fazer as extorsões. A polícia apreendeu 17 celulares de última geração. O delegado disse também que vários aparelhos funcionavam ao mesmo tempo.
Os presos de uma penitenciária do Complexo de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, montaram um disque-droga, como mostrou reportagem do Jornal Nacional, nesta quinta-feira (26). Escutas telefônicas, feitas com autorização da Justiça, revelam como está o sistema carcerário no Brasil. A Seap admitiu, na quinta-feira, que bloqueadores de celular não conseguem impedir que presos comandem ações de dentro dos presídios.
O delegado Mendonça afirma que existia uma espécie de escritório organizado que promovia aluguéis de celulares para outros presos para que eles praticassem extorsões, usando o golpe do falso sequestro, quando ligavam para a vítima dizendo que um parente tinha sido sequestrado, quando na realidade nada tinha acontecido.
“Nossa investigação demonstrou que eles agiam em várias frentes. Além de praticar extorsão dentro de um esquema de falso sequestro, existiam parentes que, de alguma forma, contribuíam com a prática dos crimes, tanto no intuito de receber vantagens das vítimas das extorsões como também de articularem a compra de drogas para que elas entrassem nos presídios e pudessem ser vendidas para outros presidiários”, explicou o delegado.
Nos grampos
Nos grampos, os presos chegam a ligar para uma rádio. “Boa tarde, eu gostaria de pedir uma música. De Zeca Pagodinho. Aquela que canta, eu bato o meu tambor, é pra Ogum de São Jorge...”, diz o preso em uma das escutas.
Um dos detentos chega a pedir uma música “pro pessoal que tá privado de liberdade, no Plácido de Sá Carvalho”, referindo-se a um presídio de Bangu.
Os presos não usam o celular na cadeia apenas por diversão. Não é de hoje que policiais descobrem que, lá de dentro, eles fazem ligações e aplicam o golpe do falso sequestro. Os detentos se sentem tão à vontade que criaram até um disque-drogas para consumo próprio.
Numa das conversas, dois presos, em alas diferentes, negociam cocaína. “Manda pó mesmo. Três ou quatro gramas. Pode mandar despreocupado que o dinheiro vem amanhã”, afirma um deles.
Em apenas 15 dias de monitoramento, ele fez, da cadeia, 5 mil ligações. No início da semana, os policiais fizeram uma devassa em três celas do presídio Plácido Sá Carvalho. Cerca de 300 presos foram obrigados a ficar na área do banho de sol.
“Os telefones começaram a tocar dentro dos colchões. Eles faziam buracos dentro da parede e com uso de pasta de dente e de tinta eles pintavam o local”, revelou o delegado Márcio Mendonça.
Os agentes encontraram nos buracos e nos colchões 17 celulares, 35 chips, 22 carregadores, drogas prontas para a venda e R$ 3 mil. Foram presos a mulher e o cunhado de um dos presidiários e um outro cúmplice.
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